Filme do dia (66/2024) – “Entrevista com o Demônio”, de Cameron e Colin Cairnes, 2024 – 1977. O apresentador do talk show noturno “Night Owls”, Jack Delroy (David Dastmalchian), precisa salvar seu programa do cancelamento advindo de seu próprio comportamento inadequado e envolto em escândalos. Para tanto, promove um episódio temático para a noite de Halloween, no qual mostrará uma suposta possessão. O que ele não imagina são os rumos que seu programa tomará.
Num formato que simula um documentário, também conhecido como “mockumentary” (ou falso documentário), e aliado ao gênero “found footage”, o filme performa, com habilidade, um típico programa televisivo dos anos 70, do tipo “talk show”, com todos os seus maneirismos quanto à interação com sua plateia, tiradas humorísticas e apelo sensacionalista. Talvez o maior mérito do filme seja justamente essa deliciosa viagem ao passado, o que é alcançado não apenas pelo desenho de produção de época, que traz todo aquele estilo setentista no figurino, cabelos, maquiagens e objetos de cena, mas, também, por fingir limitações técnicas quanto à fotografia e o som, comuns naquela época. Assim, temos uma imagem pouco definida, com cores lavadas, defeitos de transmissão, tudo para simular uma produção real dos anos setenta. Além desta característica otimamente imprimida à obra, o filme entra com um argumento no mínimo instigante – e se a atração apelativa, apoiada no sensacionalismo, fosse real? E se essa atração saísse do controle do apresentador? Temos de concordar que a ideia é ótima e abre inúmeras possibilidades ao filme. E, na minha opinião, é muito bem conduzida, começando com leveza e humor, passando para um estranhamento e uma tensão modesta, aumentando gradualmente a tensão até a chegada do clímax... momento em que eu achei que os diretores perderam um pouco a mão e passaram um tantinho do ponto ideal, posto o episódio virar um completo show de horror, para o pânico do protagonista. Apesar do clímax não ter me agradado muito, a obra, como um todo, tem muito mais pontos positivos que negativos. Outra virtude do filme é retratar bem o declínio ético do personagem principal, disposto a qualquer coisa para manter seu programa e sua audiência em alta, mesmo que, para tanto, precise expor – inclusive ao perigo – seus convidados, plateia e telespectadores. Eu gostei desta construção do personagem Jack Delroy, assim como me agradou a interação dele com os demais personagens – Jack percebe o risco, ele sabe que está à beira do precipício, mas a ganância, o orgulho e a luta para manter sua popularidade o impedem de simplesmente pisar no freio. Confesso que o filme conseguiu segurar bastante a minha atenção e mesmo estando em uma sessão bem tarde (início às 21h50min e término às 23h30min, aproximadamente), não perdi a concentração e o interesse e, tampouco, fiquei com sono durante a projeção – isso é MUITA coisa, principalmente durante a semana! Bom, já mencionei a aparência antiguinha do filme e seu formato “documental”, então podemos partir para o elenco, encabeçado por David Dastmalchian, que está beeeeem convincente como o desesperado apresentador Jack Delroy – gostei bastante das mudanças do personagem, ele é um em frente às câmeras (bem-humorado e seguro) e outro atrás delas (inseguro, ansioso e um tanto arrogante). Não me lembrava do ator e curti seu trabalho. No papel do médium Christou, Fayssal Bazzi – ótimo personagem, o perfeito charlatão (até que... rs); no papel do ilusionista Carmichael, especializado em desmascarar falsos ocultistas, o ator Ian Bliss – também gostei de sua interação, muito bem orquestrada na trama; como a parapsicóloga June, Laura Gordon – okay, mas sem brilho; e, como a personagem possuída por um demônio, a menina Lilly, a ótima Ingrid Torelli – a atriz consegue fazer sua Lilly muito estranha, suas expressões chegam a ser perturbadoras. O filme é, na maior parte do tempo, bem bacana e interessante, principalmente para quem já acompanhou aquele tipo de programa retratado, lá pelos idos dos anos 1970. Como eu mencionei, perde o fôlego no clímax, mas não acho que chegou a estragar a experiência. Eu gostei, adoro filmes sobre possessão, mas é do tipo ame ou odeie. Atualmente no cinema, em circuito comercial.
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