Filme do dia (90/2020) - "Era o Hotel Cambridge", de Eliane Caffé, 2016 - No Centro de São Paulo, refugiados de outros países, migrantes de outros estados e sem-tetos em geral dividem a ocupação de um edifício abandonado e precisam aprender a conviver considerando os diferentes hábitos e culturas.
Entremeando a população local da ocupação com atores profissionais, Eliane Caffé dá um panorama geral da vida e da sobrevivência dos refugiados e sem-tetos no edifício ocupado, bem como mostra um pouco da luta pela moradia na cidade de São Paulo. Não há bem um roteiro definido, o fio condutor é a convivência naquele espaço. Apesar de ser uma mostra um pouco superficial - afinal, pouco mais de 90 minutos é muito pouco tempo para desenvolver, com profundidade, um estudo sobre a questão dos sem-tetos -, é certo que o filme foca no importante e urgente tema da falta de moradias nos grandes centros do Brasil, revelando as dificuldades pelas quais passam aquela população, as más condições de vida nas ocupações e sua luta por moradias. O filme é uma ficção, mas tem os dois pés fincados no documentário, inclusive fazendo uso de uma linguagem documental, com câmeras na mão, depoimentos e imagens reais da ocupação. As cenas finais, filmadas no dia de uma reintegração de posse de uma ocupação, são de cortar o coração e revoltar os espíritos mais sensíveis e combativos - a truculência da polícia frente à população marginalizada e carente é inaceitável. No elenco, Suely Franco e José Dumont conduzem diálogos e ações junto aos atores e atrizes amadores que representam a si próprios no filme. É uma obra bem interessante, evidentemente engajada, com um certo tom de denúncia. Não vou dizer que amei de paixão, mas gostei e achei bem válido. Recomendo.
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