- hikafigueiredo
"Estamira", de Marcos Prado, 2004
Filme (164/2017) - "Estamira", de Marcos Prado, 2004 - Estamira, 62 anos, trabalha no aterro sanitário de Gramacho, Rio de Janeiro. Sofrida, com séria perturbações psiquiátricas, Estamira expõe seus pensamentos e verdades.

Nesse documentário excepcional, acompanhamos um pouco do dia a dia dos trabalhadores de um lixão e, mais especificamente, a realidade de Estamira, uma das trabalhadoras locais. Estamira é uma figura forte, marcante, a despeito de seus sérios problemas psiquiátricos. Apesar de ser completamente perturbada e, na maior parte das vezes, não falar coisa com coisa com ares messiânicos, é certo que, em meio à sua loucura, há momentos em que diz coisas muito lúcidas e profundas. Acompanhando o cotidiano de Estamira, sabemos de seu passado extremamente sofrido - sério, a história dela é de partir até os corações mais peludos - trazendo todas as justificativas possíveis para seu estado psiquiátrico. O filme é bom demais da conta. Construído quase como um quebra-cabeça, peça a peça, termina com um belo panorama da "personagem". Se a montagem é especialmente boa, a fotografia - de autoria do próprio diretor Marcos Prado - não é menos que excepcional - alternando momentos em fotografia colorida bem definida, com outros P&B, bastante granulada (lembrando os filmes do começo do século XX), tudo é imerso em intensa poesia. A trilha sonora, por sua vez, é sofisticada e bastante adequada à obra. Minha única crítica é à duração da obra - com 1h56min de duração, ao final eu a achei um pouco repetitiva, podia ter uns 15 minutinhos a menos. O filme é muito, muito bom, com imagens e significados muito fortes, mas, também, bastante pungente, realmente sofrido. Recomendo demais.