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hikafigueiredo

“Este Crime Chamado Justiça”, de Dino Risi, 1971

Filme do dia (68/2023) – “Este Crime Chamado Justiça”, de Dino Risi, 1971 – O rígido magistrado Mariano Bonifazi (Ugo Tognazzi) desconfia que o rico empresário Lorenzo Santenocito (Vittorio Gassman) é o responsável pela morte de uma garota de programa. Ele fará de tudo para levar o milionário à justiça.





O cinema político italiano das décadas de 60 e 70 foi responsável por obras excepcionais como o maravilhoso “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” (1970), “A Classe Operária Vai ao Paraíso” (1971) e “Sacco e Vanzetti” (1971). Esta obra vem juntar-se a outras do movimento e foca, principalmente, na questão da corrupção dentro e fora do judiciário italiano. A história acompanha o embate entre um rígido juiz e um empresário milionário, ambos fortemente marcados por diferentes vieses ideológicos, acerca do falecimento de uma prostituta – enquanto o magistrado move montanhas para provar a responsabilidade do empresário nesta morte, este fará de tudo para provar sua inocência, mesmo que isso signifique mentir e corromper eventuais testemunhas. O filme vai retratar o quanto a corrupção se encontrava institucionalizada no país, alcançando os mais diversos estratos da sociedade, além do colapso moral vivenciado por esta mesma sociedade, que não poupava nem mesmo as famílias – sintomático os pais que convencem a filha a abandonar o namorado que a resgatara da prostituição para que ela volte a “se virar” e, assim, garantir uma vida mais confortável a eles ou o filho que interna o pai num manicômio para que ele não diga verdades em juízo. A obra, ainda, levanta uma questão acerca dos limites éticos – até onde você iria para defender suas convicções ideológicas e fazer o que acredita ser certo? Confesso que a obra conseguiu me manipular direitinho e o desfecho me surpreendeu profundamente. A narrativa é linear, com algumas pequenas inserções em flashback, em ritmo lento a moderado. A atmosfera é de leve tensão, provocada pelo “cabo de guerra” entre os protagonistas. O filme traz uma fotografia bem setentista, com cores pouco saturadas (na realidade, eu diria até “desmaiadas”) e aproximações rápidas do objeto através do zoom da câmera (algo que eu nunca gostei). Interessante a opção por mostrar as hipóteses do juiz em P&B, o espectador acompanhando o raciocínio do magistrado. Destaque para o elenco primoroso: Ugo Tognazzi está incrível como o rígido juiz, convicto de que a sociedade italiana precisava ser defendida de tipos como o empresário, que só traziam prejuízos ao país; Vittorio Gassman, por sua vez, consegue imprimir ao personagem do empresário uma personalidade asquerosa, que chega às raias do grotesco, muito embora seja, quase sempre, cinicamente simpático e gentil, tudo com um toque de humor – um trabalho excepcional do ator (<<<< fan detected)!!!! No elenco, ainda, Ely Galleani como Silvana Lazzorini, e Yvonne Furneaux como Lavinia Santenocito. O filme é ótimo, vale muito a pena e é uma ótima introdução ao cinema político italiano dessa época. Recomendo muito.

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