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hikafigueiredo

"Estranhos no Paraíso", de Jim Jarmusch, 1984

Filme do dia (187/2018) - "Estranhos no Paraíso", de Jim Jarmusch, 1984 - Willie (John Lurie) é um imigrante húngaro, morador de Nova York, que, contra sua vontade, recebe sua prima Eva (Eszter Balint) na sua casa, por alguns dias. Junta-se a eles o amigo de Wille, Eddie (Richard Edson), criando-se uma situação incômoda para todos os envolvidos.





O filme - excepcionalmente bom !!! - transita por um terreno de estranhamento e desconforto entre os personagens que, pela própria estrutura da narrativa, é estendido ao espectador. Os personagens Willie e Eva, ao se conhecerem, imediatamente repudiam o contato do qual não podem se livrar em curto espaço de tempo, obrigando-os a conviver sob o mesmo teto. O desconforto, que beira a irritação, é evidenciado na troca de poucas, mas rudes, palavras, além de um evidente descaso de um pelo outro. Aos poucos, os dois se aproximam e a impaciência inicial vai se transformando em uma tolerância frágil. No entanto, uma fina camada de irritabilidade e descontentamento permanecem durante toda a narrativa. É incrível como o desconforto da situação é transmitida para o público, que percebe, exatamente, como aqueles personagens se sentem. Esse efeito é conseguido através de inúmeros silêncios longos e opressores; pela comunicação truncada, quase uma "não-comunicação"; pela postura rígida dos atores, sempre muito parados, tensos, sem saber o que fazer com os braços e as mãos; pelos muitos planos fixos, estendidos além do limite de tempo habitual de duração de um plano; pelos ângulos de câmera estranhos, inusuais (como nas cenas em que Willie e Eddie estão no carro e o enquadramento é feito por trás de suas cabeças, ao invés de pela frente de seus rostos); pelas locações vazias, sem pessoas, sem movimento ou sons; e até mesmo pela fotografia P&B, com profundidade de campo extrema, que dá uma sensação de abandono e solidão. As interpretações do trio de atores, que num primeiro momento me pareceram pouco convincentes, justamente pela rigidez dos intérpretes, aos poucos fizeram todo o sentido, sendo parte integrante e essencial para o efeito de estranhamento buscado pelo diretor. O filme é bom, viu?! Bom pacarai, ao mesmo tempo em que é ousado e inovador. Vale a pena demais, não queria que fosse tão curtinho (85 minutos apenas). A obra ganhou "Câmera de Ouro" em Cannes, em 1984. Vejam!!!!

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