Filme do dia (116/2018) - "Eu Não Sou Seu Negro", de Raoul Peck, 2017
A partir de um manuscrito inacabado do escritor negro norte-americano James Baldwin, o diretor Raoul Peck criou este documentário que discorre sobre alguns dos mais nefastos episódios de ódio racial dos Estados Unidos, dentre os quais os ataques a Dorothy Counts, a primeira estudante negra a frequentar um colégio para brancos, e os assassinatos de Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King, tentando, de certa forma, compreender a origem do ódio racial e sua função e consequências na formação do país e da cultura norte-americana. A obra é densa, as ideias contidas no filme são profundas e exigem um trabalho intelectual para acompanhar o raciocínio de James Baldwin, tratando de temas como representatividade, local da fala e o ridículo da ideia falaciosa de que "somos todos humanos". O teor do manuscrito é apresentado por uma narrativa em "off" na voz de Samuel L. Jackson e acompanhado pelas mais diversas imagens da época (década de 60) e de tempos posteriores, além de inúmeros trechos de entrevistas feitas pelo próprio James Baldwin (uma figura impressionante, com seus grandes e expressivos olhos que parecem engolir o espectador, e quase sempre com uma postura séria e desconfiada - com toda a razão do mundo). Prepare-se para imagens perturbadoras, daquelas que nos fazem desacreditar do ser humano - em especial se esse ser humano vier na "matiz branca" - tais como o espancamento de Rodney King, cadáveres enforcados de homens e mulheres negros, passeatas dos defensores do "white power" e por aí vai. A obra é excepcional, deve ser vista e revista, muitas vezes, a despeito do mal estar, indignação e vergonha que possam causar no espectador. Assistam.
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