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"Extermínio", de Danny Boyle, 2002

hikafigueiredo

Filme do dia (345/2020) - "Extermínio", de Danny Boyle, 2002 - Após invadir um laboratório de pesquisas, um grupo de eco-ativistas liberta um chimpanzé infectado com um vírus que transforma os seres humanos em seres sanguinários em questão de segundos. Quando uma integrante do grupo é atacada, abre-se a porta para disseminar o vírus por toda a Inglaterra.





Passando a cena do laboratório, mas ainda dentro dos primeiros dez ou quinze minutos de filme, tomei um choque - a cena que verdadeiramente abre a narrativa é EXATAMENTE igual ao início da série (e quadrinhos, pela minha pesquisa) "The Walking Dead": o personagem Jim acorda de um coma em um hospital vazio e revirado, em uma cidade igualmente vazia e revirada, até descobrir que os habitantes viraram criaturas próximas a zumbis (na realidade não são verdadeiramente zumbis, pois estão todos vivos e, depois de mortos, não retomam a atividade). Por esse motivo, comecei o filme com bastante má vontade em relação a ele. Mais para a frente, quando entra um elemento "humano" para complicar o enredo já suficientemente apocalíptico, também reconheci uma evolução semelhante à da história dos quadrinhos. Fechei a cara mais ainda. Ao fim da obra, resolvi pesquisar e descobri, com surpresa, que foram os quadrinhos de The Walking Dead que chupinharam, na cara dura e na maior desfaçatez, a ideia do filme, pois "Extermínio" foi lançado em 2002 e as HQs mencionadas começaram a ser produzidas no ano seguinte, 2003. Isso mudou completamente a minha leitura do filme e me fez ver méritos até então ignorados. Pelo o que eu pesquisei, o filme foi um dos primeiros (senão, o primeiro) onde os "zumbis" não são criaturas claudicantes, trôpegas - ao contrário, são seres mais "energéticos" que os humanos, justamente por estarem fora de seu estado normal e, possivelmente, "inundados" de adrenalina. Assim, fugir e se manter a salvo das criaturas torna-se infinitamente mais complicado. Além disso, a ideia de colocar o "coleguinha" como um inimigo tão ou mais perigoso que os "zumbis" é perfeita e reflete, cirurgicamente, a realidade - ou alguém acredita que, no caos, há civilidade e solidariedade? Então, o que temos no filme é menos uma história de terror e muito mais uma crítica ao comportamento humano (e ainda acho que o diretor foi otimista ao criar um minúsculo núcleo solidário). Agora, é evidente que as HQs e a série The Walking Dead conseguem desenvolver muito melhor essa questão "humana" por conta da menor duração do filme - mas a ideia está lá. A narrativa é linear, o ritmo alterna momentos mais frenéticos com outros mais lentos e a atmosfera é de constante apreensão. O desenvolvimento é um pouco irregular, a despeito de ótimas "sacadas" da história. As cenas de Londres absolutamente vazia são impressionantes e geram uma angústia inicial bem marcada no espectador. A caracterização das criaturas é okay, sem exageros, lembrando que elas não são mortas-vivas de fato, mas, sim, pessoas infectadas com um vírus. O elenco é irregular - gostei de Brendan Gleeson como Frank e Megan Burns como Hannah, mas acho Cillian Murphy um ator meio "unhé" em qualquer papel e também não senti muita firmeza em Naomie Harris no papel de Selena (ainda que prefira ela a Murphy). Não vou dizer que o filme é extraordinário porque não é... mas é razoável e tem, como já disse, algumas boas ideias, não totalmente desenvolvidas, na minha opinião. Em todo caso, é um entretenimento que dá para o gasto se você não for por demais exigente.

 
 
 

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