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  • hikafigueiredo

"Filhos da Esperança", de Alfonso Cuáron, 2006

Filme do dia (55/2018) - "Filhos da Esperança", de Alfonso Cuáron, 2006 - Inglaterra, 2027. Num mundo distópico, há dezoito anos nenhum bebê nasce no planeta. Em meio à realidade caótica, o funcionário público Theo (Clive Owen) leva uma vida burocrática, até ser contatado por Julian (Julianne Moore), sua ex-esposa, líder de uma grupo revolucionário que lhe pede ajuda para conduzir, até um local seguro, a jovem Kee (Clare-Hope Ashitey).





A primeira vez que assisti a esse filme, eu me incomodei com algumas alternativas "românticas" do roteiro. Acho que eu estava em um mau dia. Revendo a obra, gostei mais dela e pude prestar mais atenção em virtudes que vão além da história. Em relação ao tema, diria que o filme discorre sobre redenção e esperança (acho que eu sou meio pessimista - ou niilista, talvez - porque acho esses assuntos bem pieguinhas rs). Mais interessante que sua mensagem de fé, na minha opinião, é a crítica embutida na realidade exposta no filme - o mundo é um caos, em grande parte, pela inabilidade humana em aceitar a diversidade, acolher os necessitados e colaborar por um mundo melhor (preceitos bastante revolucionários, ao meu ver, e crítica feroz ao capitalismo). Naquele mundo, enquanto a população inglesa vive com qualidade de vida e relativo conforto, uma massa incontida de refugiados e imigrantes ilegais vive à margem da sociedade, é perseguida, colocada em campos de refugiados que equivalem a campos de concentração e deportada para países onde o caos predomina (isso lembra alguma coisa ???). O ser humano é dividido entre o "nós" e os "eles" - e os "eles" não merecem qualquer concessão. Essa parte da população mundial colocada para viver em condições degradantes, por sua vez, rebela-se e tenta cavar seu lugar ao sol através de ações violentas, inclusive terrorismo (isso lembra alguma coisa???? [2]) . Nessa cena apocalíptica, estando a humanidade condenada pela própria incapacidade de se reproduzir, surge a esperança na forma de uma refugiada africana. Mas um bebê, nessa realidade, não é apenas um bebê: ele se torna uma causa - e uma arma política. A própria disputa pelo diminuto "troféu" já demonstra a falência da humanidade (ou seja, junto com a esperança, vem, ainda, a certeza absoluta de que o ser humano vale nada). Toda essa crítica contida na obra já valeria a pena. Mas ainda temos a forma do filme. Fotografia, direção de arte e montagem excepcionalmente boas, fazem da obra um achado. A concepção de direção de arte - que consegue fazer do caos um espaço quase de reconhecimento da nossa atual realidade - foi acertadíssima. A fotografia primorosa, trabalhando com tons azulados, nos dá uma sensação de frieza e distanciamento. A opção em usar, em alguns momentos, uma linguagem meio jornalística, com uma câmera nervosa que acompanha os protagonistas, foi uma grande sacada. E a montagem... que montagem, cara!!!! O plano-sequência do conflito no campo de refugiados é simplesmente brilhante, ocasião em que eu tive dúvidas se chegaria viva ao fim da sequência pelo tempo excessivo em apneia (quem consegue respirar com tanta tensão????). Quanto ao elenco, Clive Owen assume bem o papel de redentor, ao passar de funcionário público desiludido a um homem decidido a defender aquilo em que acredita ( sem contar que Clive Owen é objeto de desejo desta que vos fala, né??? rsrsrsrsr). Julianne Moore é pouco aproveitada no filme - muito talento para pouco espaço. Clare-Hope Ashitey acerta a mão como a jovem refugiada apavorada ante o desconhecido - e sabendo que um mundo recai em seus ombros (o olhar da atriz - ele é perfeito). No elenco de apoio, ainda, Michael Caine (ele é um ator tão versátil que até mesmo como um "ripongo" de meia idade fumador de maconha ele convence!!!) e Chiwetel Ejiofor (num papel meio inexpressivo, aquém de seu talento). O filme é mais bacana do que eu me lembrava, e a direção de Alfonso Cuáron vale demais a pena. Assistam.

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