Filme do dia (257/2018) - "Partículas Elementares", de Oskar Roehler, 2006 - Após viverem anos separados, sem sequer saberem da existência um do outro, os irmãos Michael (Christian Ulmen) e Bruno (Moritz Bleibtreu) conhecem-se na juventude. Filhos de uma mãe ausente e metida a hippie, os rapazes desenvolvem-se de maneira neurótica e oposta - enquanto Michael é tímido e evita contatos com o sexo oposto, Bruno é obcecado por sexo e fetichiza as mulheres. Suas vidas e comportamentos serão confrontados ao se depararem com duas mulheres igualmente opostas.
Well, well, well.... por onde começar... o filme tenta traçar um perfil psicológico dos dois irmãos e, de certa forma, busca justificar as características e neuroses por eles desenvolvidas. Temos, aqui, dois problemas. O primeiro: o perfil psicológico dos irmãos é extremamente estanque, não tem nuances, não possui contradições, não revela profundidade. Ambos soam por demais clichê - um é o estereótipo do intelectual sexualmente travado, o outro, o "macho" com baixa autoestima, sexualmente frustrado, que assedia indistintamente qualquer mulher para compensar tal frustração. O primeiro, doce, correto, do tipo que desperta o instinto maternal e o senso de proteção das mulheres; o segundo, do tipo mais escroto possível. Um não faz nada errado, o outro não faz nada certo - cara, não existe ninguém tão padronizado assim, tão sem "espessura"!!!! O segundo problema me incomodou ainda mais - a história sugere que as neuroses desenvolvidas pelos personagens advém exclusivamente da mãe liberal e ausente. Meu, que ideia mais machista e reducionista!!! Okay, eu concordo que uma família desestruturada pode levar ao desenvolvimento de muitas questões psicológicas, traumas, medos, etc. Mas vem cá.... e os pais dessas duas criaturas???? Não são tão responsáveis pelos problemas psicológicos e de relacionamento dos filhos quanto a mãe??? Bem machista o desenvolvimento da narrativa, deu vontade de socar o autor da história e o diretor do filme!!! A obra, também, revelou-se muito, MUITO, moralista, quase uma filial do TFP em ambiente cinematográfico! Outra coisa que me saltou aos olhos foi a caracterização da mãe - que raio de hippie era ela que saía por aí dirigindo carro esporte conversível e usando roupinha de madame? Completamente deslocada do perfil sugerido na história. Bom, mas como o filme não tem só equívocos, salvam-se as interpretações e achei o desfecho razoável, ainda que moralista (sem spoilers). Moritz Bleibtreu, que constrói um Bruno absolutamente odioso, com todas as características de uma pessoa horrorosa - machista, racista, preconceituosa, egoísta, irresponsável, e por aí vai - chegou a receber o Urso de Prata de Melhor Ator em Berlim em 2006 por sua interpretação. No elenco, ainda temos Martina Gedeck ("A Vida dos Outros", "Atrás da Porta") e Franka Potente ( a eterna Lola de "Corra Lola, Corra"). Apesar dos problemões apontados, o filme é assistível e conseguiu prender a minha atenção (mas tem obra muito melhor para assistir antes dessa, tá? rs).
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