Filme do dia (234/2017) - "Francofonia - Louvre Sob Ocupação", de Alexander Sokurov, 2015 - Paris, 1940. O exército alemão ocupa a cidade. O oficial Franz von Wolff-Metternich é destacado para cuidar das obras do Museu Louvre, as quais deveriam ser levadas para a Alemanha. No entanto, as obras já haviam sido removidas do museu e espalhadas por diversos castelos da França.
A obra de Sokurov retoma o movimento iniciado com o belíssimo "Arca Russa". Mais uma vez, há uma comparação entre o mar/navio e a história - "perigoso atravessar o mar revolto com obras de arte". O filme discute a importância da arte e de seus depositários, os museus, relacionando-os com a ascendência de um país sobre os outros através das guerras ("o lugar em que ela *a arte* vai ficar é determinado pelo destino das guerras"). Há, ainda, uma certa comparação implícita entre Napoleão (o qual trouxe, como espólio de guerras, inúmeras obras de arte para o Louvre) e o exército alemão (o qual intencionava fazer o mesmo que Napoleão, só que levando as obras para a Alemanha). O filme é, ainda, uma grande divagação acerca da arte, da história e de seus agentes, em especial Napoleão, Metternich e Jacques Jaujard, o diretor do Louvre na época da ocupação alemão e grande responsável pela manutenção das peças artísticas em solo francês. Não existe, praticamente, nenhuma linearidade na obra - como pensamentos que fluem por diferentes questões, que podem ou não, ser retomadas mais adiante, o filme "passeia" por diversas ideias, dando destaque para um ou outro assunto, dependendo do momento, motivo pelo qual esqueça de qualquer sinal de roteiro tradicional, pois ele inexiste. A obra é hiper contemplativa e muitas vezes há completa desconexão entre as imagens e a banda sonora, composta - às vezes alternadamente, às vezes concomitantemente - por música clássica, narrativa em "off", diálogos e ruídos. Aliás, como em "Arca Russa", um narrador acompanha todo o filme, discutindo, divagando, questionando os personagens históricos, pontuando ideias. Aqui, temos, ainda, uma forte metalinguagem, pois em vários momentos o filme se mistura com a própria feitura do filme, como nas cenas em que a claquete é mostrada ou quando as imagens são acompanhadas da representação gráfica da banda sonora. Visualmente, a obra é belíssima, como só Sokurov é capaz de fazer. Além de inúmeras cenas do Louvre e de algumas obras de arte - por vezes perscrutadas nos mínimos detalhes, inclusive nas minúcias das molduras - temos uma fotografia delicada em tons de sépia, remetendo a épocas passadas. A obra é linda, linda, mas não é para todos os gostos, tem que entrar na "viagem" do diretor e deixa fluir (e fruir) as ideias ali colocadas. Gostei bastante e recomendo para quem curte obras nada NADA tradicionais.
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