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  • hikafigueiredo

"Ghost World - Aprendendo a Viver", de Terry Zwigoff, 2001

Filme do dia (449/2020) - "Ghost World - Aprendendo a Viver", de Terry Zwigoff, 2001 - Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) são duas adolescentes que acabam de terminar o ensino médio e adentram à vida adulta. Inteligentes, porém cínicas e descrentes, as duas amigas tomam caminhos opostos - enquanto Rebecca faz planos de arrumar um emprego e sair de casa, Enid vaga pela existência sem rumo ou planos.





Baseado na HQ homônima de Daniel Clowes, o filme acompanha o cotidiano vazio e sem propósitos de Enid e, em segundo plano, a amizade desta com Rebecca, a partir da formatura delas no segundo grau. A obra tem uma pegada niilista que me lembrou, de imediato, os filmes de Todd Solondz - a personagem Enid, em especial, é a imagem do cinismo e chega a ser, não uma nem duas vezes, perversa e cruel nas suas atitudes, prejudicando não só terceiros, mas, inclusive, ela própria. Mais do que Rebecca, Enid parece inadequada em seu ambiente, muito embora tenha talentos que ela opte por não explorar. Em dado momento, Enid faz "amizade" com Seymour, interpretado por Steve Buscemi, um homem na casa dos trinta anos, antissocial e igualmente inadaptado, que terá sua vida completamente afetada pela relação estabelecida com Enid. A obra é uma crítica à sociedade norte-americana, ao "american way of life" e à maneira como os jovens são "jogados" para a vida adulta. Apesar de curtir a levada do filme e a intenção de crítica, fiquei um pouco incomodada com a toxidade da personagem Enid, que sentia verdadeiro prazer em incomodar e prejudicar aqueles que a rodeavam - sua personalidade perversa me pareceu um pouco excessiva, até por ela mesmo sair prejudicada, de forma que eu passei a questionar a alegada inteligência da personagem. A narrativa é linear e possui um ritmo de moderado a intenso. A atmosfera é pesada, mas não angustia, apenas incomoda. O desfecho é interpretativo, ainda que eu não veja muitas opções de interpretação (sem spoilers). O filme tem um visual bacana, muito colorido, bem anos 90, bastante bem aproveitado pela direção de arte e pela fotografia luminosa. Eu gostei muito do trios de atores principais: Tora Birch adora uma personagem deslocada e sem propósitos - vide Jane de "Beleza Americana" (1999) -, saindo-se muito bem na interpretação destes tipos (eu cheguei a ter raiva de Enid); Scarlett Johansson dá vida a uma Rebecca bem mais suave que a amiga - ainda que despreze aspectos da sociedade em que vive, ela tenta, de alguma forma, encaixar-se nessa realidade, ainda que sob uma postura crítica; já Steve Buscemi, que usualmente interpreta personagem cínicos e "malandros", aqui interpreta um homem tão deslocado quanto as adolescentes Enid e Rebecca, um sujeito simpático, tímido e consciente de sua "esquisitice", que me despertou profunda simpatia e, até mesmo, certa piedade. A obra concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e ao Globo de Ouro para Melhor Atriz (Thora Birch) e Melhor Ator Coadjuvante (Steve Buscemi). O filme é muito legal, mas deixa um amargor na boca difícil de lidar (digo de novo, muito no naipe dos filmes de Todd Solondz). Recomendo para quem gosta de obras críticas e com o pé no niilismo.

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