- hikafigueiredo
“Happiest Season” (“Alguém Avisa?”), de Clea DuVall, 2020
Filme do dia (118/2023) – “Happiest Season” (“Alguém Avisa?”), de Clea DuVall, 2020 – Abby (Kristen Stewart) é a apaixonada namorada de Harper (Mackenzie Davis), sendo convidada pela companheira para passar o Natal com a sua família. Quando está a caminho da casa dos pais de Harper, Abby é comunicada de que eles não sabem do relacionamento entre as duas jovens e que será apresentada como mera amiga de Harper. Rapidamente, o feriado se torna o pior pesadelo de Abby.

Essa suposta comédia romântica – digo suposta porque vi muito pouco humor na narrativa – discorre sobre um tema complexo, porém necessário – a difícil e dolorosa “saída do armário” daqueles que se descobrem homossexuais em uma sociedade ainda muito homofóbica e machista. Na história, temos um casal de namoradas – Abby e Harper – que dividem a casa e o dia-a-dia e estão apaixonadas. Num ímpeto, Harper convida Abby para passar cinco dias na casa de seus pais, mas não revela que ela não assumiu sua homossexualidade para a família. Quando Abby chega à residência dos pais de Harper, ela é apresentada como amiga da namorada e, imediatamente, sente-se deslocada em meio àquelas pessoas. Para piorar a situação, a família de Harper vive de aparências, todos com “esqueletos no armário”, muito preocupados com a opinião e julgamento alheios para serem quem são na realidade. Começa então, o pior pesadelo de Abby, pois é tratada com uma irritante condescendência pelos pais da namorada, já que Harper justificou a ida de Abby por ela ser órfã e não ter com quem passar o Natal. Como uma bola de neve, a cada minuto a estadia de Abby torna-se mais desgastante e desagradável. Algumas considerações: a família de Harper é tão pouco autêntica que não convence, não parece real. Claro que sei que existem pessoas que vivem atrás de aprovação alheia, forçam as aparências e mimetizam uma vida perfeita e ideal, mesmo que, nas entranhas, não seja nada daquilo e esteja tudo meio podre, mas, na história, isso é elevado a um nível que não me parece possível de sustentar. Assim, a família em questão me soou excessivamente “fake”. Outro ponto: Abby suporta as humilhações, os julgamentos e o desprezo até um limite que não me pareceu crível. Não sei se sou eu que sou muito impulsiva e não tenho muita resistência à pressão psicológica, mas em bem menos tempo eu teria jogado tudo para o alto e mandado uma série de palavrões para cada familiar da cara-metade. Assistir à verdadeira tortura da personagem Abby naquele ambiente tóxico e nada acolhedor me foi extremamente desconfortável – inclusive me questiono se alguém consegue ver humor naquela situação horrível. A narrativa é linear, em ritmo moderado e constante. A atmosfera geral é opressiva e irritante, acredito que não tenha tido nenhum momento em que eu tenha me sentido relaxada e dado risada. Formalmente, é uma obra completamente “mainstream”, o que se espera de um filme hollywoodiano de Natal, apesar da temática um pouco mais ousada. As interpretações, na minha humilde opinião, ultrapassaram a falsidade da situação e me soaram péssimas, com exceção de Kristen Stewart, uma excelente atriz para atuações contidas e introspectivas, caso do filme, Aubrey Plaza como Riley e Daniel Levy como John. Mackenzie Davis estava horrível como Harper – minha sensação é que ela estava completamente deslocada na personagem. Mary Holland e Alison Brie, que interpretam as irmãs de Harper, soaram mais falsas que nota de três reais, e nem mesmo a veterana Mary Steenburgen convenceu com seu trabalho. Destaque mais que absoluto para a cena em que John alerta Abby acerca das inúmeras reações possíveis para a “saída do armário” – achei uma interpretação sensível e uma fala muito, muito razoável, honesta e lúcida para a questão. Confesso que eu sempre torço pelo casalzinho nas comedinhas românticas – aqui, a situação estava tão desconfortável que eu a certa altura comecei a torcer muito contra Harper, desejando que Abby se interessasse por Riley, uma personagem muito mais simpática. Bom... o desfecho é previsível como todos os filmes desse gênero. Vale pela abordagem gay, mas é isso - mais do mesmo.