Filme do dia (215/2020) - "Hebe - A Estrela do Brasil", de Maurício Farias, 2019 - Década de 80. A apresentadora Hebe Camargo (Andréa Beltrão) entra em atrito com a ainda existente censura no país por conta de temas abordados no seu programa de auditório. Mas ela decide que ninguém a irá calar.
Quem acompanha o que eu escrevo sabe que sou grande admiradora do cinema brasileiro e, sempre que possível, defendo com unhas e dentes a produção nacional. Mas tem filmes que abusam da amizade e que até eu tenho certa dificuldade em defender. Esse aqui é um caso desses últimos. Começa que eu tive a sincera impressão de que o filme foi feito por um fã. O diretor só faltou canonizar a apresentadora. Evidente que a pessoa Hebe Camargo tinha virtudes como qualquer ser humano. Mas fazer uma cinebiografia e esquecer de mostrar o lado não tão bonito do biografado é de doer. A obra fez de tudo o possível para "passar pano" no que não interessava mostrar: a absoluta inconsistência política da apresentadora, pois tinha graça "defender o povo" e, ao mesmo tempo, fazer propaganda eleitoral para o que de pior havia na política na época. Também ficou meramente subentendido um abuso de álcool, além da obra ter perdido a grande chance de aprofundar a questão do relacionamento abusivo da apresentadora com o marido. O enfoque relacionado ao filho da apresentadora também foi raso e não disse a que veio. Sobrou, de interessante, o atrito de Hebe com a censura - mas achei algo um pouco restrito demais para merecer um filme inteiro. A obra limita-se a alguns poucos anos da vida da apresentadora, com o enfoque quase exclusivo na questão da censura do programa de Hebe. A narrativa anda aos trancos, mostrando momentos tão comezinhos - como a preocupação da apresentadora quanto ao cenário de seu programa ou um brinco de brilhantes que ela perdeu - que o que tem de realmente interessante fica perdido num mar de informações desimportantes. Todos os personagens são rasos, começando pela protagonista. Nada é aprofundado, tudo fica na superfície. As caracterizações das pessoas públicas que aparecem em cena são sofríveis, com exceção única de Otávio Augusto como Chacrinha - e olha que é um mar de gente famosa: Roberto Carlos, Roberta Close, Dercy Gonçalves, Silvio Santos, Nair Belo, Lolita Rodrigues. Nem mesmo Andrea Beltrão, atriz que adoro e admiro, convenceu como apresentadora. Eu olhava para a personagem e via a Andrea Beltrão travestida de Hebe, não via a Hebe. Acho que a única cena que eu gostei foi a que ela diz que preferia oito anos de cadeia a se retratar do que disse no palco de seu programa. Eu me esforcei, mas não consegui me envolver por um só instante com a obra. Não curti e não recomendo (exceto, talvez, para fãs assumidos).
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