Filme do dia (21/2023) – “Herói de Mentira”, de Preston Sturges, 1944 – O jovem Woodrow (Eddie Bracken) se vê envolvido em uma grande e mentirosa confusão ao ser confundido com um herói de guerra em sua pequena cidade natal.
Nesta comédia de Preston Sturges temos uma sátira divertida sobre patriotismo, heroísmo e sobre valores socialmente enaltecidos, como honra, verdade e coragem. Nosso protagonista Woodrow é o jovem filho de um honrado fuzileiro naval, que sonhava em também ser fuzileiro, mas que acaba sendo dispensado por questões médicas. Envergonhado, ele não retorna para sua casa, escondendo de todos que fora dispensado. Ao encontrar seis fuzileiros navais em licença, Woodrow acaba confessando a eles a mentira contada para sua mãe – que acredita que ele se encontra no campo de batalha em plena Segunda Guerra. Os soldados, então, bolam um plano para reconduzirem Woodrow à sua cidade natal e, contra a vontade do rapaz, chegam ao local dizendo que ele é um grande herói de guerra, criando uma grande confusão para o jovem. A narrativa acaba contrapondo a mentira contada à índole correta do protagonista, que, ao invés de se aproveitar maliciosamente das benesses que lhe são oferecidas, envergonha-se da história e tenta, de todas as formas, reverter o estrago que se cria. A narrativa é linear, em ritmo moderado. A atmosfera é leve e ligeira, ainda que explore os tais valores elevados da sociedade. Ainda que não faça uma dura crítica à sociedade norte americana, o diretor, sem dúvida, usa toda essa valoração como base à sátira que nos oferece. Até por tocar em temas mais sérios e tensos – lembrando que o filme foi realizado em plena Segunda Guerra -, a obra é uma comédia mais contida e se afasta um pouco das “comédias malucas” que fizeram a fama do diretor. Por outro lado, Sturges deixa uma ponta de romance na história na relação entre os personagens Woodrow e Libby. Como no ótimo “Papai por Acaso” (1944), Eddie Bracken interpreta o sujeito corretíssimo, cheio de boas intenções e grande coração que se mete em uma enrascada por ações de terceiros. Eu não conhecia o ator antes destas obras e tomei uma enorme simpatia por ele, que, certamente, tem uma incrível veia cômica. Seu par no filme, Libby, é interpretado por Ella Raines – a moça, sem dúvida, é linda, mas tem o apelo de uma lata de ervilhas e a química dela com Bracken chega a ser menor que zero. Digo mais: o trabalho de Raines é fraquíssimo, a pior atriz a trabalhar com o diretor dentre a leva de filmes a que assisti recentemente. Percebi que o diretor sempre “carregava” consigo seu elenco de apoio e mais uma vez temos, em cena, William Demarest, Al Bridge, Raymond Walburn, Georgia Caine e Jimmy Conlin, intérpretes que estivarem em todos ou quase todos os filmes vistos por mim nos últimos dias. A obra é divertida, um bom exemplo de comédia satírica, mas confesso que gostei mais das “screwballs comedies” do diretor. Em todo caso, vale a pena e recomendo.
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