Filme do dia (397/2020) - "Histórias Proibidas", de Todd Solondz, 2001 - "Ficção": Em uma turma de estudantes de composição literária em uma universidade, a estudante Vi (Selma Blair) envolve-se com o colega Marcus (Leo Fitzpatrick), que sofre de paralisia cerebral. Após uma discussão com o namorada, Vi acaba encontrando o professor de ambos, Mr. Scott (Robert Wisdom), em um bar, dando início a um jogo de sedução; "Não Ficção" - O estudante Scooby (Mark Webber) concorda em participar de um documentário promovido pelo fracassado Toby (Paul Giamatti), expondo sua vida e de sua família.

O universo que o diretor Todd Solondz gosta de trabalhar é sempre o mais obscuro e perturbado possível, o que pode ser visto nas obras "Bem-Vindo à Casa de Bonecas" (1995) e "Felicidade" (1998). Em seus filmes não faltam críticas diversas, em especial para a hipócrita classe média norte-americana, receptáculo de inúmeras perversões e características negativas. Em "Histórias Proibidas" não foi diferente. Tendo como norteador o ato de narrar uma história, seja através de palavras, seja por imagens, a obra, mais uma vez, envereda por terrenos frágeis e instáveis. Separado em duas partes - o arco "Ficção" e o arco "Não Ficção" - o filme faz uma severa crítica ao mundo acadêmico, mas não só a ele. Na primeira história, temos um professor egocêntrico, cruel e abusivo que guarda um segredo envolvendo suas alunas. Este arco discorre principalmente sobre poder em sala de aula, mas, ainda toca em assunto diversos e polêmicos como racismo, abuso sexual, falta de empatia, dentre outros. Na segunda história, o leque de assuntos tratados aumenta consideravelmente e vai de exploração dos trabalhadores, ao mito da meritocracia, passando pela hipocrisia da classe média, o ambiente estudantil, a oposição entre ser e ter, e mais uma infinidade de temas impossíveis de elencar em poucas linhas. Entre os dois arcos, um grande fosso, na minha opinião, pois a segunda parte é infinitamente mais rica, bem desenvolvida, crítica e impactante que a primeira. Em comum, apenas o mal estar típico das obras de Solondz, pois são filmes em que o espectador sempre acaba sentindo certo incômodo. Destaque para as cenas - TODAS - em que a empregada doméstica Consuelo aparece, mas, especificamente, no diálogo entre ela e o impertinente Mikey (teria prazer uterino em dar uma coça nesse personagem); destaque, ainda, para a cena da projeção do documentário e para a cena final, extremamente perturbadora. O elenco mostrou-se um pouco irregular, mas gostei de John Goodman como o patriarca Livingston, típico "homem de bem", Mark Webber como o lesado Scooby, Paul Giamatti como Toby e, principalmente, Lupe Ontiveros como Consuelo e Jonathan Osser como Mikey (aaaah, que vontade de esfregar a cara do personagem dele no asfalto quente). O filme é beeeem bacana, ainda que esteja aquém dos anteriores. Vale mais pela segunda história do que pela primeira. Gostei e recomendo.
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