Filme do dia (90/2024) – “Insônia”, de Erik Skjoldbjaerg, 1997 – Os policiais suecos Jonas Engström (Stellan Skarsgard) e Erik Vik (Sverre Anker Ousdal) são destacados para ir à Noruega para investigar o assassinato de uma jovem de quinze anos. Durante a investigação, no entanto, por um lapso, Jonas acaba atirando em seu parceiro, que falece em consequência ao disparo. O policial, então, resolve encobrir seu erro, mas uma testemunha poderá desmascará-lo.
Neste thriller sueco, refilmado por Christopher Nolan em 2002, temos o protagonista Jonas dividido entre a culpa e temor em ser descoberto, muito embora o medo ganhe a disputa “de braçada”. Na história, o policial Jonas e seu parceiro Erik viajam da Suécia para a Noruega para investigar o assassinato de uma jovem. Durante as investigações, Jonas acidentalmente mata Erik, mas, ao contrário de assumir a responsabilidade, tenta encobrir seu erro. No intuito de esconder o seu equívoco, Jonas toma uma série de atitudes antiéticas e criminosas para confundir a investigação e impedir que os policiais noruegueses descubram ter sido ele o autor do disparo fatal. Paralelamente a isso, Jonas vivencia a culpa de ter assassinado seu parceiro, o que, somada à luminosidade daquele local, impedem-no de dormir. O filme se estabelece à partir da construção do personagem Jonas ou, ainda, de sua desconstrução – se, num primeiro momento, o espectador credita virtudes ao protagonista por conta de suas profissão e reputação, paulatinamente essa imagem de pessoa ética e profissional vai sendo desconstruída, dando lugar ao verdadeiro Jonas, um homem amoral, cruel, corrupto, egoísta, abusivo e violento, que não mede esforços para alcançar seus objetivos, mesmo que para isso precise mentir, forjar provas, acobertar criminosos e até mesmo imputar crimes a inocentes. Sua conduta se torna ainda mais perversa quando ele descobre que há uma testemunha de seu disparo fatal e que tal pessoa pode desmascará-lo a qualquer momento, dando início a um jogo de gato e rato entre as partes. A pouca culpa que Jonas sente – exteriorizada através das alucinações que o personagem, insone, vivencia – é completamente abafada por sua ânsia em não ser descoberto. A narrativa é linear, muito embora aconteçam alguns “flashes” de memória do protagonista, lembranças do momento do disparo. O ritmo, mesmo sendo um thriller, é moderado, criando um suspense interessante. A obra tem uma atmosfera tensa, soturna e angustiante e o espectador, que se vê quase como um cúmplice de Jonas por saber de todos os seus passos, passa a torcer pela sua derrocada. Apesar de sueco, o filme não tem aquela circunspecção, aquele peso, típico do cinema nórdico, aproximando-se do cinema hollywoodiano. Formalmente, é uma obra que não foge muito do convencional, com exceção das cenas de alucinação e pela perseguição final. Com relação às interpretações, confesso que sofri por detestar tanto o personagem Jonas, interpretado por Stellan Skarsgard, um ator por quem eu tenho um apreço profundo. Como de costume, o ator entrega um trabalho preciso e irretocável, conferindo complexidade e espessura ao personagem.; no papel de Erik, Sverre Anker Ousdal, com pouco tempo para mostrar seu trabalho; Bjorn Floberg interpreta Jon Holt, um personagem tão ou mais detestável que Jonas, num trabalho igualmente irrepreensível; e como Hilde, a ótima Gisken Armand. O filme é ótimo, tanto que chamou a atenção de Hollywood, que logo providenciou uma versão estadunidense, completamente desnecessária. Eu gostei muito e recomendo. Pelas minhas pesquisas, o filme está disponível em streaming na Amazon Prime.
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