Filme do dia (224/2018) - "Interlúdio", de Alfred Hitchcock, 1946. Após seu pai ser condenado à prisão por ser um agente alemão nos EUA, Alicia Huberman (Ingrid Bergman) é contatada por Devlin (Cary Grant), um agente do governo norte-americano, para tornar-se espiã da Inteligência. Alicia aceita a proposta e é destacada para uma missão no Rio de Janeiro, devendo se aproximar de Alexander Sebastian (Claude Rains), um antigo aliado de seu pai.
Hitchcock, como excepcional diretor que era, jamais negou seu talento e esta obra comprova, mais uma vez, a qualidade de seus filmes e de sua direção. Apesar de ser um thriller e deixar o espectador em apneia e com o coração na mão em inúmeras cenas, a obra é, antes de tudo, um romance - e diga-se de passagem, não um romance qualquer, mas um que tem Cary Grant e Ingrid Bergman, numa sintonia inigualável. Ao longo da história temos duas questões que correm paralelas e que se fundamentam, basicamente, em dois "jogos": de um lado, a missão de Alicia e os jogos que se estabelecem entre os agentes americanos e os investigados alemães; de outro, as disputas que acontecem entre Alicia e Devlin, pois, apesar de apaixonados, não assumem seus sentimentos, em especial Devlin. Aqui preciso fazer um parênteses - visto daqui, do ano 2018, parte da narrativa se apoia num festival de machismo que dá nos nervos. Okay, okay, eu sei que, para a época, os argumentos estavam perfeitamente inseridos naquela realidade social, etc, etc, etc. Mas salta aos olhos o comportamento machista, misógino e patriarcal dos personagens - Alicia é designada para uma missão e se espera dela uma conduta "x". No entanto, ao cumprir sua função e seguir as diretrizes que lhe são passadas, ela é julgada e, por assim dizer, "condenada", simplesmente por fazer o que lhe pediram - por aceitar sua missão, ela não seria uma "dama" e, por isso, é desprezada. A cena em que a reputação de Alicia é discutida por um bando de macho - inclusive por Devlin que, apesar de desconfortável, não se levanta para defendê-la - é de uma escrotidão ímpar. Fechando o parênteses. Como todo bom filme de Hitchcock, a atmosfera de tensão é cuidadosamente construída num movimento crescente que tem seu clímax na última cena - é quase um desespero!!!! Do ponto de vista técnico, a obra possui uma fotografia P&B super contrastada, bem ao estilo "noir", maravilhosa e responsável por parte do clima de tensão. Algumas cenas tem um desenvolvimento incrível, como a que se inicia no térreo da casa, com a câmera em plongée e acompanha o personagem Alex subindo as escadas até o plano em que a câmera está. Destaque, ainda, para as cenas onde se ressalta um elemento responsável por um aumento da tensão, como o close na chave da adega ou a xícara de café em primeiro plano enquanto o resto da cena acontece ao fundo - Hitchcock era um gênio!!!!! Evidentemente, a montagem acompanha a qualidade da fotografia e da direção e constrói, com elas, toda a atmosfera de suspense. E o que falar do elenco???? Não bastasse a beleza estonteante do casal central, a dupla ainda desenvolveu uma química raramente encontrada em um par amoroso. Claude Rains, por sua vez, não ficou atrás e sua atuação foi tão boa que foi indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. As interpretações são ótimas, mas a cena que eu mais admirei foi a do "porre" de Alicia - poucas vezes vi alguém interpretar uma pessoa bêbada tão bem, sem pesar na interpretação - vi metade dos meus amigos ali naquela cena!!! rsrsrsrsrs XD Como é de se esperar, mais um filmaço do mestre, recomendadíssimo!!!!!
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