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"Intolerância", de D. W. Griffith, 2016

hikafigueiredo

Filme do dia (202/2020) - "Intolerância", de D. W. Griffith, 2016 - Em quatro histórias, contadas simultaneamente, a intolerância surge e transforma a vida dos personagens: a luta do rei babilônico contra a invasão do rei Ciro; a vida de Jesus; o massacre do dia de São Bartolomeu; e uma história de amor nos tempos modernos.





Após as críticas (justificadíssimas!) sofridas pelo diretor por conta de seu posicionamento acerca da questão racial em "O Nascimento de uma Nação", Griffith lançou um quase manifesto em forma de filme com a obra "Intolerância". Defendendo a predominância do amor e da tolerância sobre as demais coisas (sim, esse papo brega e hipócrita mesmo), o filme, em tese, retrata situações de intolerância através do tempo. Com um roteiro que, a meu ver, não tem muito pé nem cabeça - coloca intolerância religiosa, guerras na antiguidade, injustiças sociais, tudo no mesmo balaio - Griffith deu vida à primeira superprodução da história do cinema (ainda que "O Nascimento de uma Nação" também tenha sido uma produção considerável, ela fica modesta perto do que foi mobilizado para fazer "Intolerância"). Se por um lado o conteúdo é, no mínimo, patético (depois do racismo escancarado em sua obra anterior, vir com esse papo de amor, tolerância e união é para lá de hipócrita, principalmente porque só vale para o povo de pele clara), visualmente obra é grandiosa até para os padrões atuais. Principalmente pela parte da Babilônia, o filme é megalomaníaco, mas incrivelmente sedutor, com seus cenários monumentais, direção de arte rebuscada e milhares de figurantes. Nessa obra, Griffith provou, mais uma vez, que dominava profundamente a nascente linguagem cinematográfica. O roteiro alterna os quatro diferentes núcleos de uma maneira exemplar, levando as quatro narrativas em paralelo de maneira que todas encontram seu clímax ao mesmo tempo. A montagem é quase milagrosa e é habilíssima em criar tensão e um ritmo crescente que praticamente "explode" no clímax. Nesse filme já podíamos antever a predisposição do cinema norte-americano para o melodrama, com aquela manipulação básica do espectador que eu detesto tanto. O elenco é simplesmente gigantesco, mas destacaria o trabalho de Constance Talmadge como "A Garota das Montanhas" no arco da Babilônia e Mae Marsh como "Queridinha" no arco moderno. Lilian Gish já surgia como diva imaculada por seu papel como a mãe que balança o berço ao longo de todo o filme. Não vou iludir ninguém: ainda que vistoso e extremamente bem feito, o filme é excessivamente longo (quase três horas) e bem menos interessante que outros filmes dos primórdios do cinema tão longos quanto, como, por exemplo "Os Nibelungos" (1924), infinitamente mais legal que "Intolerância". Acho que só vale a pena para quem tem curiosidade quase mórbida acerca da história do cinema, caso contrário, passe reto.

 
 
 

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