Filme do dia (278/2021) - "Joe - das Drogas à Morte", de John G. Avildsen, 1970 - Após assassinar acidentalmente o namorado "junkie" de sua filha Melissa (Susan Sarandon), o publicitário de sucesso Bill (Dennis Patrick) envolve-se perigosamente com um operário de extrema-direita, Joe (Peter Boyle).
Do mesmo diretor de "Rocky - O Lutador", o filme contrapõe dois extremos: de um lado os jovens envolvidos com a contracultura e o movimento hippie, adeptos de comportamentos liberais que envolviam amor livre e o consumo desenfreado de todas as drogas possíveis, o pacifismo, a contraposição à Guerra do Vietnã, as manifestações culturais de protesto e a novas relações sociais; de outro, uma sociedade engessada, beligerante, hipócrita, tradicionalista, culturalmente estagnada, racista, sexista, violenta, representada por homens brancos, cisgêneros e heterossexuais, o que havia de mais retrógrado e atrasado nos idos da década de 1970. Através deste confronto, o diretor expõe um panorama da sociedade da época, evidenciando os erros e "pecados" de cada extremo e o resultado trágico do choque de duas diferentes visões de mundo. Ainda que a história não aponte "inocentes" - todos têm alguma responsabilidade pelo insucesso de um eventual contato entre as partes e ninguém é santo ali -, há uma crítica mais contundente ao lado conservador, muito provavelmente por ser o mais autoritário, violento e cheio de ódio. O publicitário Bill, muito embora conte com um leve verniz de civilidade, não é muito diferente do grosseiro e ignorante operário Joe, que passa as noites a encher a cara e vociferar contra negros, gays, hippies e tudo mais o que ele veja como ameaça ao seu estilo de vida - que, por si só, não tem nada de invejável. A proximidade entre os dois, vai apurar o lado mais negativo de Bill, num processo muito semelhante ao que vimos recentemente numa certa parcela da população de diversos países que se curvaram a discursos e líderes de extrema-direita, bastante virulentos. O resultado dessa verdadeira "involução" de Bill será dramático e trará perdas para todos os envolvidos. Eu achei os personagens muito bem construídos e verossímeis, lembrando muito aquele vizinho "reaça" que não perde uma oportunidade de soltar as maiores barbaridades em discursos inflamados para quem quiser ouvir. O roteiro é muito bem encadeado, muito embora o desfecho seja previsível. A narrativa é linear, num ritmo bem marcado. Dos quesitos técnicos, o que mais me chamou a atenção foi uma trilha sonora com rock de protesto e blues, bem como a direção de arte que conseguiu caracterizar bem cada personagem dentro de seu universo de atuação. O elenco traz Peter Boyle como o odioso operário, cheio de ódio por tudo aquilo que evidencie seu fracasso, suas frustrações e sua vida vazia; Dennis Patrick também está perfeito como o publicitário elegante, sob o qual existe um homem autoritário, preconceituoso e fraco; Susan Sarandon estreia no cinema como uma frágil e perdida menina rica, atraída para o meio hippie pela liberdade e mergulhada no mundo das drogas. Completando o elenco, Patrick McDermott como Frankie, Audrey Caire como Joan e K. Callan como Mary Lou. O filme me prendeu e consegui ver muitos paralelismos com a realidade atual. Acho que vale bastante a pena. Recomendo.
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