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"Kairo", de Kiyoshi Kurosawa, 2001

hikafigueiredo

Filme do dia (195/2018) - "Kairo", de Kiyoshi Kurosawa, 2001 - Michi (Kumiko Aso) estranha o fato de seu colega Taguchi estar há dias sem aparecer no emprego. Preocupada, ela vai à casa de Taguchi, onde o encontra com aparência deprimida. Michi afasta-se por alguns instantes do colega e, quando volta ao cômodo onde ele estava, depara-se com uma terrível cena. Paralelamente, Ryosuke (Haruhiko Katô), um estudante de economia, vem tendo problemas para aprender a lidar com a internet.





Apesar de ser um filme de terror - excepcional, diga-se de passagem -, a obra tem um um fundo extremamente crítico e até mesmo filosófico - o que o torna ainda mais assustador! Faz-se, aqui, uma crítica direta à conexão virtual entre as pessoas, o que, na realidade, aprofundaria o distanciamento entre os indivíduos, transformando-os em seres cada vez mais solitários. Interpretei os fantasmas que estariam acessando as pessoas através da internet como uma metáfora dos próprios indivíduos - através do contato virtual, todos nós nos transformaríamos em "fantasmas", seres sem forma definida, solitários e ávidos por uma existência real e pelo verdadeiro contato humano. Além disso, a concepção da morte como a solidão eterna (ideia que é explicitada ao longo da narrativa), faria com que o inverso também fosse verdadeiro - a solidão absoluta seria o mesmo que a morte, o que levaria ao esfacelamento do indivíduo (as pessoas se desmanchando e se tornando apenas manchas no ambiente). A atmosfera da obra passa, gradativamente, do terror puro e simples para algo mais pesado, deprimente, desalentador, ainda que o terror jamais desapareça de vista. Mais para o fim do filme, com a propagação generalizada dos "fantasmas", percebe-se que a obra trata de um futuro próximo distópico, estando, o ser humano, completamente "tomado" pela existência virtual, aqui tratada como algo sobrenatural - em outras palavras, afastando as metáforas envolvidas, temos nada mais do que a nossa realidade atual... O filme funciona por qualquer ângulo que se olhe - seja como crítica filosófica, seja como puro terror, ele cumpre muitíssimo bem seu papel. Sem cenas "gore" e sem nenhuma cena de "jumpscare", o filme consegue criar uma tensão que, por Deus, quase me leva ao infarto, não sei como consegui dormir à noite! A estrutura da narrativa é construída por duas histórias paralelas que, lá pelas tantas, encontram-se e se fundem, de forma a mostrar, não apenas racionalmente, mas, também, sensorialmente, que o que acontece é disseminado por todo o mundo (do jeito que eu falei, explicitamente, pode parecer um expediente bobo, mas é fato que funcionou super bem e contribuiu muito para criar o clima de angústia final). Olha... o filme é ÓTIMO, vale muitíssimo a pena!!!! (Do mesmo diretor de "A Cura", outro terror psicológico excepcional!).

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