Filme do dia (398/2020) - "Ladrão de Casaca", de Alfred Hitchcock, 1955 - Uma onda de furtos de joias vem ocorrendo na Riviera Francesa. O principal suspeito desses crimes é John Robie (Cary Grant), o "Gato", um antigo contraventor, "aposentado" há alguns anos. Alegando inocência, Robbie passa a investigar por conta própria, ocasião em que conhece a linda herdeira Frances Stevens (Grace Kelly).
Mestre absoluto do suspense, Hitchcock sempre conseguiu extrair tensão máxima de seus filmes. Em obras como "Janela Indiscreta" (1954), "Psicose" (1960) e "Pássaros" (1963), o diretor chega até a flertar levemente com o terror (nem tão levemente assim, no caso de "Psicose"). Ainda que, no momento pertinente, Hitchcock não tenha errado na dose e tenha conseguido manter aquela tensão no limite, eu achei que o diretor, aqui, focou em demasia no romance entre os personagens Robie e Frances - como eu, via de regra, não curto o gênero, a obra ceder espaço do suspense para o romance é sempre uma perda grande. Outro incômodo, no filme, foi a própria personagem Frances que, na minha opinião, careceu de profundidade e com quem não estabeleci qualquer empatia - ela me pareceu apenas uma ricaça chatinha e mimada que, dificilmente, iria se interessar pelo personagem Robie, graças ao passado de crimes dele. Além disso, preciso pontuar o descarado etarismo da obra - Cary Grant tinha nada menos que vinte e cinco anos a mais que Grace Kelly, com quem fez casalzinho. Definitivamente, Hollywood sempre teve um papel muito importante no estabelecimento do preconceito de idade relacionado às mulheres, completamente proibidas de envelhecer. Eu diria que esta é uma obra "menor" de Hitchcock, o que não quer dizer que não esteja bem acima da média se comparada a outros filmes da época. A narrativa é linear, o ritmo é marcado e a atmosfera é, lógico, tensa como o esperado para um suspense. O filme conta com uma bela fotografia colorida e uma direção de arte sofisticada, com destaque para os figurinos da "high society" presente na Riviera Francesa. Evidente que a beleza das locações auxilia - e muito - na estética refinada e "eloquente" da obra. O elenco é encabeçado pelo versátil Cary Grant - ele era ótimo tanto nos papeis "sérios", quanto nos cômicos -, interpretando o protagonista John Robie de maneira segura e fazendo par com Grace Kelly no papel de Frances - podem me atirar pedra se quiserem, mas não gostei da atuação da atriz aqui; não sei dizer se o problema está na personagem, na minha humilde opinião, insossa, ou na própria atriz, que não me pareceu tão inspirada como em outros filmes. No elenco, ainda, Jessica Royce Landis, Brigitte Auber e John Williams. Destaque para a cena clímax da revelação do verdadeiro autor dos crimes, muito bem orquestrada pelo diretor, mas que não me surpreendeu nem por uma fração de segundo - tinha certeza da autoria desde o meio do filme. O filme é bom, claro, como tudo do diretor, mas assumo que não me arrebatou como outros filmes do mestre. Recomendaria apenas depois do espectador já ter visto as maiores obras de Hitchcock.
Comments