Filme do dia (08/2019) - "Lazzaro Felice", de Alice Rohrwacher, 2018 - Em uma fazenda inacessível em algum lugar da Itália, camponeses são explorados pela dona daquelas terras. Dentre os camponeses vivendo sob trabalho escravo, há Lazzaro (Adriano Tardiolo), um jovem inocente e prestativo, cuja ingenuidade e bondade levam-no a ser explorado até por seus pares. A chegada de Tancredi (Luca Chikovani), filho da "patroa", e sua súbita amizade com Lazzaro, modificará o destino de todos os habitantes daquele lugar.
A obra, sucesso no último Festival de Cannes, onde foi agraciada com o prêmio de melhor roteiro, afasta-se do realismo e assume um caráter fantástico para fazer uma crítica ao capitalismo e às relações sociais desiguais no seio deste. A crítica, aqui, abarca as relações de trabalho no campo, o êxodo rural, a exploração da mão de obra imigrante, a marginalização da população pobre urbana, o poderio do capital financeiro, dentre outros temas. O personagem central destaca-se como um ser imaculado, intocado pelo egoísmo, maldade ou interesse, generoso, desapegado, a verdadeira antítese do homem sob a ótica capitalista. A narrativa, repleta de alusões e metáforas, é dividida em duas partes, com um grande salto temporal entre elas (que, simbolicamente, não incide sobre Lazzaro, que surge como um ente atemporal). Com os dois pés no realismo fantástico, o roteiro tem na originalidade e no conteúdo crítico seus maiores méritos. Merece destaque a interpretação de Adriano Tardiolo, que, como comentou a personagem Antonia, exalava uma "aparência honesta" - o ator consegue imprimir no personagem uma ingenuidade inumana, um olhar infantil de desprendimento e docilidade jamais visto. É uma obra curiosa, diferente, que proporciona uma experiência cinematográfica estranha, mas agradável. Eu curti.
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