Filme do dia (204/2017) - "Manchester à Beira-Mar", de Kenneth Lonergan, 2016 - Lee Chandler (Casey Affleck) é um homem introspectivo e solitário. O falecimento de seu irmão e a necessidade de cuidar de seu sobrinho adolescente, o obriga a retornar para sua antiga cidade, onde terá de se confrontar com as razões que o levaram a fugir daquele local.
A arte de sobreviver ao "insobrevivível" - este é o assunto de que trata este filme. Destrincha-se, aqui, os meandros de uma alma atormentada - prepare-se para afundar na dor infinita do personagem principal, o que é feito com extremo cuidado. Lee vive verdadeiramente em um limbo, quase uma morte em vida. E não se trata apenas de dor. Muito mais que sofrimento, Lee convive com a culpa, já conformado em tê-la como companheira eterna. É um filme sofrido, doído, e que me remeteu à obra "Alabama Monroe", justamente por tratar do mesmo binômio de dor e culpa. O roteiro é incrível, muito bem construído e amarrado, alternando tempo presente e passado de forma enxuta e precisa. O ritmo é pausado, nada acontece com arroubo, é obra para lenta digestão. A paleta de cores da obra gira em torno do cinza, a fotografia é incontrastada, não há espaço para sol em momento algum, tudo remete à ausência de vida do personagem, carregando na atmosfera melancólica e fria. Nos momentos chaves da história temos, como trilha sonora, uma música clássica repleta de violinos chorosos. Mas é impossível tecer loas ao filme sem destacar a interpretação estupenda de Casey Affleck (putz, Ben, teu irmãozinho te fez comer poeira, hein???) - Casey arrebenta com uma atuação contida, um olhar vazio e sem esperança, uma linguagem corporal fantástica (cabeça constantemente baixa, ombros curvados e a sensação de que ele está com uma respiração incompleta). Não lembrava de Casey Affleck em outros filmes, mas fiquei pasma com o talento do rapaz, ganhou o Oscar de Melhor Ator com toda a propriedade do mundo. No elenco, ainda, Michelle Willians como Randi (responsável por uma das cenas mais tocantes e pelo diálogo mais "engasgado" do filme), Kyle Chandler como Joe e Lucas Hedges como Patrick (também em uma atuação fabulosa). O filme é bom, viu, bom "pacarai" (em especial se você, como eu, adora um drama de partir o coração)!!!! Recomendo para quem quer testar a própria capacidade de sofrer com um filme. Ps - surpresa em ver Mathew Broderick numa mini ponta da obra.
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