Filme do dia (86/2020) - "Maria e João: O Conto das Bruxas", de Osgood Perkins, 2020 - Europa, em alguma altura da Idade Média. Em plenos tempos de escassez e peste, a jovem Maria (Sophia Lillis) e seu irmão ainda criança, João (Sammy Leakey), são expulsos de casa pela própria mãe. Sem destino para chegar, as crianças são acolhidas por uma velha senhora (Alice Krige), residente em uma casa no meio da floresta, cujas intenções se mostrarão nefastas.
Os contos de fadas originais, provenientes da Idade Média, são, via de regra, violentos e sombrios - aquela doçura que encontramos na Disney é somente uma releitura cor-de-rosa para crianças modernas. Essa obra retoma a atmosfera original destes contos de fada medievais e entrega, ao público, uma história soturna e terrível. O filme é praticamente um conto de terror - mas não aquelas histórias tipo "jumpscare", que a cada cinco minutos te faz pular da cadeira. Nãããão. Aqui a narrativa se apoia num forte terror psicológico e investe no "climão" de horror que deixa o espectador crispado na cadeira. Podemos considerar que a história é uma jornada de descobrimento e amadurecimento da personagem Maria, uma passagem para a vida adulta, um abandono da infância e lançamento para o futuro. A obra é um verdadeiro pesadelo filmado, carrega em imagens mentais que remetem ao medo, à morte, à destruição e reconstrução - não tenho dúvidas que aqui existe um riquíssimo material para uma análise psicanalítica (que eu não tenho qualquer condição de fazer, certo ?! rs). O filme, ainda, tem um substrato bem triste e pesado, fincado na ideia da fome, na luta pela mais primitiva sobrevivência - o que elas fariam para conter essa fome? Putz... isso é bem angustiante... Aqui, todos os elementos do filme convergem para essas imagens de terror intangíveis - o roteiro, que coloca as duas crianças em assustadoras situações de impotência e desproteção; a fotografia escura, lúgubre, pesada, que se aproveita de posicionamentos de câmera estranhos, fecha em detalhes mórbidos e bebe de todo o clima onírico possível; a edição de som, que evoca os piores pesadelos; a direção de arte (aqui nem vou entrar em detalhes, mas tem algumas cenas que são puro horror, sério); e, claro, as interpretações dos atores, com destaque para Sophia Lillis, absolutamente expressiva: seu olhar, seu rosto, tudo revela seu quase pânico e suas dúvidas; e, também, para Alice Krige, que interpreta uma bruxa assustadora, sob o sorriso gentil de uma velha senhora. A obra me remeteu ao filme "A Bruxa" (2015), que trabalha com esse mesmo imaginário sombrio e mexe com um medo quase ancestral - sério... eu fiquei com medo de não conseguir dormir à noite... rsrsrsrs. Eu gostei DEMAIS do filme e, para quem quer mergulhar em uma sensação de pesadelo, é uma ótima pedida. Recomendadíssimo.
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