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"Memórias Póstumas de Brás Cubas", de André Klotzel, 2001

hikafigueiredo

Filme do dia (399/2020) - "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de André Klotzel, 2001 - Rio de Janeiro,1869. Morre Brás Cubas (Reginaldo Farias/ Petrônio Gontijo), um ilustre cidadão que, após sua morte, resolve contar sua história de vida.





André Klotzel é um diretor por quem tenho profundo respeito e admiração. Primeiro por ter dirigido um dos meus filmes nacionais prediletos, "A Marvada Carne" (1985), e, segundo, por ter tido a ousadia de trazer para as telas um dos mais importantes - senão o mais importante - romance brasileiro. Tenho de dizer que é preciso coragem para adaptar para cinema uma obra com a complexidade, ironia e sutilezas de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", romance irretocável de Machado de Assis. A tarefa, extremamente árdua, foi cumprida com esmero, com um resultado positivo, muito embora não alcance a magnitude do livro (mas é super compreensível, sério, era uma missão inglória e o resultado foi muito acima do que eu esperava). Para a empreitada, Klotzel juntou só gente fera da área do cinema nacional, tipo José Roberto Torero, Pedro Farkas, Adrian Cooper, dentre outros. A obra se esforça para trazer para o espectador as sutilezas do livro e até consegue, em parte; no entanto, algumas passagens ficaram aquém do livro, até pela limitação de tempo. A narrativa, como no livro, é não linear - afinal, Brás Cubas é um defunto-autor e não o contrário, como ele próprio explicita (rs). O roteiro flui extremamente bem se considerarmos a complexidade do livro - que poderia dar origem a um filme todo truncado, o que não aconteceu. O ritmo é moderado e segue numa "velocidade cruzeiro" agradável. A atmosfera traz certa melancolia, mas não perde a ironia natural do texto. A fotografia e a direção de arte de época estão perfeitas, sem críticas. Petrônio Gontijo interpreta Brás Cubas jovem e, ainda que não chegue a fazer feio, não consegue trazer para o público a mordacidade do personagem, diferentemente de Reginaldo Faria que interpreta Brás Cubas mais no fim da vida e no além túmulo, que é a própria imagem da ironia, captando, muito bem, a natureza do personagem. O filme traz um elenco de apoio estrelado, com gente do naipe de Sônia Braga, Stepan Nercessian, Marcos Caruso, Walmor Chagas. Como Virgília, Viétia Zangrandi, que, para mim, não disse muito a que veio (não entendi essa escolha, sinceramente). O filme é agradável, é bacana relembrar passagens do livro - que eu adoro! -, mas não dispensa a leitura do romance, porque, por mais que o diretor tenha acertado a mão no filme, ainda faltou terreno para alcançar a grandiosidade do livro. Também não diria que o filme esteja entre os melhores da cinematografia brasileira - o próprio "Marvada Carne" é superior -, mas acho que merece um crédito. Recomendo, desde que não se espere equilíbrio com a obra escrita.

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