Filme do dia (123/23) – “Meu Ódio Será Sua Herança”, de Sam Peckinpah, 1969 – Um bando de foras-da-lei liderado pelo célebre Pike Bishop (William Holden) adentra uma cidade disfarçados de soldados do exército. Após invadirem um banco, travam uma sangrenta batalha e fogem, certos que conseguiram, ali, sua aposentadoria. Mas surpresas ainda virão desta ação.

No fim da década de 60, começo da de 70, o western norte-americano encontrava-se no seu ocaso. As produções declinavam e muitas das que eram feitas jogavam um novo olhar sobre a clássica figura do cowboy, muitas vezes trazendo alguma crítica embutida. Neste panorama, o diretor Sam Peckinpah abraçou a ideia de realizar um western, reavivando alguns tradicionais conceitos do gênero, como os códigos de conduta e a fidelidade entre os membros de um bando e incluiu outros elementos, como a Revolução Mexicana e a modernização do oeste, com a presença de armas mais modernas e até mesmo um veículo automotor. Mas, de tudo o que o diretor poderia inserir no filme, nada é mais marcante que o seu próprio estilo, onde a linguagem cinematográfica é bastante trabalhada e a violência gráfica é presença recorrente. A história acompanha um grupo de foras-da-lei liderado por um notório bandido – Pike Bishop – o qual está na mira de caçadores de recompensa encabeçados por um antigo aliado, Deke Thornton. Ao longo da narrativa, Thornton sempre estará no encalço de seu ex-amigo, de forma que há sempre uma sensação de apreensão no ar, já que o espectador, desde cedo, compreende o protagonismo de Pike e rapidamente “entra para o seu time”, torcendo, mesmo que não tenha muito essa intenção, pelo sucesso do grupo. A cena inicial, no entanto, já é um pequeno presságio do que virá – as crianças que jogam os escorpiões em um formigueiro e, após acompanharam a lenta agonia dos aracnídeos, ateiam fogo a todos – escorpiões E formigas. Sem cair em spoilers, cabe mencionar que a ação irá se desenrolar na fronteira entre os EUA e o México, no início da Revolução Mexicana – o ano é 1913 – e os pobres e explorados aldeões serão parte importante dos acontecimentos. A narrativa é linear, em ritmo muito intenso. A atmosfera é de desalento, tensão e lenta agonia, que alcançam todos os núcleos envolvidos (bando, caçadores de recompensas, aldeões e soldados). Algo que tem de ser destacado é a forma impecável como Sam Peckinpah constrói as cenas de ação com vários personagens – as “triangulações” complexas que faz, sem jamais quebrar o eixo, algo que futuramente só me lembro de ter visto em Quentin Tarantino. Outro ponto a comentar é a estética marcada pela violência gráfica – inúmeras são as cenas em câmera lenta onde percebemos os mínimos detalhes dessa violência que excede, e muito, aquela usualmente presente em filmes western e que vai do sangue que surge em grande quantidade às mortes em número muito elevado e que atinge a todos. Vale destacar, ainda, a trilha musical de Jerry Fielding, muito marcante (e que me remeteu a outras trilhas de gênero). No elenco, William Holden brilha como Pike, um personagem que, embora criminoso, segue um rígido código de conduta e mostra justo e fiel aos seus – o ator passa uma certa idoneidade ao protagonista que chega a ser até curiosa, considerando tratar-se de um fora-da-lei; Ernest Borgnine interpreta o braço-direito de Pike, o personagem Dutch Engstrom e, para mim, a figura mais simpática do filme – um ótimo trabalho do ator; Robert Ryan interpreta Deke Thornton, um homem decidido a não voltar para a prisão e outra figura marcada pela retidão dentro daquele código de conduta já mencionado; Jaime Sánchez interpreta Angel, personagem responsável por grande parte da “movimentação” da narrativa. Como já disse algumas vezes, não sou fã do gênero, mas, como tenho a proposta de assistir pelo menos as principais obras de todos os gêneros, acabei por me deparar com essa obra. Claro que vejo méritos nela – muitos, por sinal – mas não foi um filme que me encantou profundamente. Nesse ponto, ainda prefiro outros filmes como “Rastros de Ódio” (1956), “O Tesouro de Sierra Madre” (1948), “O Homem que Matou o Facínora” (1962), ‘Bravura Indômita” (1969), ‘Os Brutos Também Amam” (1953) e o meu queridinho absoluto “Matar ou Morrer” (1952). Em todo caso, recomendo para quem curte o nicho.
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