Filme do dia (100/2018) - "Meu Rei", de Maïwenn, 2015 - Após um acidente, Tony (Emmanuelle Bercot) interna-se em uma clínica para tratar de uma grave lesão no joelho, período em que ela fará uma retrospectiva mental de sua vida e de seu relacionamento com Georgio (Vincent Cassel).

A obra discorre acerca de relacionamentos amorosos conturbados, a percepção destes por seus protagonistas e a dificuldade em se desvencilhar de relações tóxicas. Na narrativa, vemos a personagem Tony tomada pela presença de seu companheiro Georgio - ela tem a percepção de que aquele relacionamento a faz sofrer e não satisfaz suas necessidades, mas, ainda assim, simplesmente não consegue dar um basta e se afastar do marido. A cada tentativa de afastamento, Georgio se reaproxima de Tony e reconquista-a de maneira sedutora, convencendo-a a dar uma nova chance. Mas, quando deveria estar tudo bem, Georgio se afasta da esposa, impõe regras no relacionamento que a deixam desconfortável e trata-a de maneira indiferente. O filme faz um retrato excepcional de um relacionamento tóxico e tem o mérito de não exagerar nas cores - Georgio não é o estereótipo do homem violento, daqueles que fica bêbado todas as semanas e desce o cacete na esposa e nos filhos; não, Georgio é violento sim, mas de maneira infinitamente mais sutil, através de comentários, pequenas atitudes, imposições e, até mesmo, agressões físicas dissimuladas em brincadeiras. Da mesma forma, Tony não é a vítima padrão, que depende financeiramente do esposo e, por isso, submete-se. Tony é uma advogada de sucesso, tem estudo, condições financeiras e suporte familiar, mas, ainda assim, sofre de uma dependência emocional assustadora de seu companheiro. O tema do filme é essencial e muito bem colocado. A narrativa, por sua vez, alterna tempo presente (a clínica) com flashbacks (as lembranças do relacionamento). Não gostei do paralelo evidente entre o estado físico alquebrado e o emocional, igualmente destruído, da personagem Tony - óbvio demais, podia ser pensado em algo mais sutil. Tecnicamente, o filme é muito ótimo, com destaque para a linda fotografia. Mas o grande mérito da obra, sem dúvida, é o elenco e suas interpretações. Emmanuelle Bercot arrasa como Tony e mereceu o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pelo papel - sua Tony não é frágil, sua Tony não é limitada; ao contrário, a personagem luta muito para tentar sair da relação e desgasta-se com sua própria incapacidade de levar adiante seus planos de separação, frustrando a si mesma a cada nova tentativa. Vincent Cassel (ator que eu AMO de paixão) também fez um trabalho brilhante como Georgio - o personagem consegue ser extremamente sedutor e simpático e a gente quase não percebe quão venenoso ele é para quem está ao seu lado. Além deles, Louis Garrel como Solal, irmão de Tony. O filme é bastante bom, gostei e recomendo.
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