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“Mi Bestia”, de Camila Beltrán, 2024

hikafigueiredo

Filme do dia (145/2024) – “Mi Bestia”, de Camila Beltrán, 2024 – Juho de 1996, Colômbia. A proximidade de um eclipse deixa a pequena cidade onde reside  Mila (Stella Martínez), uma menina de treze anos, em polvorosa, dada uma profecia que diz que o diabo se mostrará na data do eclipse. Enquanto a população sofre de uma histeria coletiva, Mila sente os sinais da puberdade que se aproxima.




 

Fazendo uma relação entre a puberdade e a chegada da menstruação e um lado “animal”, “selvagem”, das mulheres, o filme inspira-se em memórias e sensações da adolescência da própria diretora, Camila Beltrán, nos dias que antecederam o eclipse da lua ocorrido em 6 de junho de 1996. Na história, a personagem Mila, de treze anos, vivencia as modificações corporais da puberdade e as relaciona com o eclipse lunar que, segundo uma profecia, traria o diabo para a Terra. Entre assustada e curiosa, Mila começa uma jornada interior, percebendo tantos as mudanças de seu corpo, quanto as alterações de humor que as acompanham. A obra, bastante sensorial, torna-se cada vez mais interpretativa, na medida em que a narrativa avança. Logicamente, é um filme que “fala” muito mais com o público feminino do que com o masculino, para quem as sensações que o filme traz talvez soem incompreensíveis. A narrativa, assim, trata de amadurecimento, do “tornar-se mulher” e da liberdade que viria junto com o crescimento, com a questão do “deixar de ser criança”. Eu li na narrativa, também, uma menção a episódios de assédio e controle masculinos na figura do personagem David e um sentimento de libertação da protagonista quando ela consegue, finalmente, dizer o “não” que estava entalado na garganta – não sei se essa era a intenção da diretora, mas o desconforto da personagem quando na companhia do antagonista David me levaram a essa interpretação, muito embora não exista nenhuma cena mais explícita de assédio. O filme traz uma estética que pode causar certo estranhamento, mas que pode ser explicada por se tratar de lembranças da diretora – as imagens são propositalmente pouco definidas, parecendo aquelas filmagens em super-8 do passado e trazem essa sensação de reminiscência, de algo perdido na memória. Inúmeras são as cenas em que a câmera assume o ponto de vista da protagonista, ocasião em que as imagens podem perder “velocidade” (aparecem em câmera lenta e muito “borradas”). Os sons, ao contrário, são muito vívidos, os ruídos são ressaltados, hipervalorizados, ganhando dimensão na narrativa. O ritmo é moderado e constante e, a atmosfera, de apreensão misturada à curiosidade. Vale a pena ressaltar o trabalho da atriz mirim Stella Martínez, que não possuía nenhuma experiência de atuação: ela tem uma expressão de sobriedade, de introspecção, um olhar denso, até difícil de explicar, mas que trazem muito volume à personagem.  O filme traça um diálogo bem vigoroso com o filme “Tiger Stripes” (2023), que trata do mesmo tema, sem assumir, no entanto, o mesmo ponto de vista pessoal desta obra aqui. Eu gostei do filme, mas confesso que tive de “trabalhá-lo” um pouco na cabeça antes de me sentir confortável com ele. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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