Filme do dia (111/2019) - "Midsommar - O Mal não Espera a Noite", de Ari Aster, 2019 - Dani (Florence Pugh) é uma jovem sensível às voltas com a instabilidade de sua irmã bipolar. Após um incidente trágico na sua vida, Dani viaja com seu namorado Christian (Jack Reynor) e um grupo de amigos deste para uma pequena e afastada comunidade no interior da Suécia para presenciar as comemorações acerca do solstício de verão. A viagem, no entanto, não sairá como planejado.
Após uma estréia quase impecável com "Hereditário", o diretor Ari Aster retorna para o gênero terror, enveredando por um terreno um pouco mais pantanoso, pois voltado para tradições e culturas alheias à norte-americana. Mas vamos por partes. O filme, ainda que definitivamente deva ser classificado como terror, tem um pé forte no drama - o que, possivelmente, passará despercebido para parte do público. Dani acaba de sofrer uma dura perda. Seu relacionamento com Christian, seu namorado há quatro anos, dá sinais de esgotamento. Dani tem crises constantes de pânico e ansiedade e sente-se sozinha e desamparada no mundo. Subitamente, Dani é transportada para aquela minúscula comunidade perdida em meio aos grotões da Suécia, onde todos vivem como em uma grande família, causando evidente impacto na jovem. Esse lado que trata da fragilidade emocional de Dani poderá ser quase ignorado pelo público, mais interessado nos componentes "aterrorizantes" da trama. Por outro lado, o terror que o filme trabalha está a anos-luz do que o grande público anda habituado e que se traduz em filmes jumpscare e/ou slasher - não, o terror aqui aproxima-se do terror psicológico, construído paulatinamente e que toma o espectador de forma sutil e sorrateira. Não espere pular na cadeira ou soltar aquele grito histérico no cinema - isso não vai acontecer. Mais provável você sentir incômodo, angústia, uma tensão leve e certa perturbação em como as coisas vão se desenrolando na tela. O filme, ainda, não possui reviravoltas, quebras de direção, correrias ou nada do gênero - o ritmo é lento, o que vai acontecendo já dá ideia do que virá no futuro, a história escorre como água, lentamente, mas implacável. Podemos mesmo dizer que a obra é previsível - mas isso, em momento algum, abafou a sensação de desconforto que eu senti. Em suma, é filme de "climão", de sensações ligeiramente desagradáveis - achei bem interessante como ele me conduziu a um certo mal-estar. Tem pelo menos duas cenas em que eu preferi desviar o olhar, tal a aflição que senti (não curto gorices). Sobre a parte técnica, destaque para uma fotografia extremamente clara, quase estourada - tudo acontece na claridade do dia, nada ocorre em meio à penumbra ou em plena escuridão, o que é beeeeeem inusual em filmes de terror. Destaque, ainda, para alguns movimentos de câmera que causaram estranhamento, como o carro se movimentando "de cabeça para baixo", ou nas cenas dos delírios de Dani - bem interessante. Destaco, ainda, a musicalidade diferentona, apoiada nos cânticos ancestrais daquela comunidade - e que também colaboram para criar uma sensação de angústia e estranhamento. Quanto às interpretações, destaque total para Florence Pugh que consegue dar um peso bacana à personagem Dani, ao contrário de Jack Reynor, que eu achei meio insípido. Reclamação - me questiono se foi feita qualquer mínima pesquisa acerca das tradições nórdicas antes de imaginar a história - capaz de ser tudo um grande groselhão, com nenhuma referência na realidade. A obra conversa intimamente com o filme "O Homem de Palha" e tem a mesmíssima pegada dele. Eu realmente gostei (ao contrário de meu companheiro de sessão, que achou a obra totalmente unhé), mas sei que é obra mais para sentir do que para racionalizar - assista com isso em mente.
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