Filme do dia (251/2020) - "Morto Não Fala", de Dennison Ramalho, 2018 - Stênio (Daniel de Oliveira) é um funcionário do IML paulista que tem o estranho poder de escutar os mortos. Quando um cadáver recém chegado ao IML revela um segredo que envolve Stênio, ele tomará uma decisão que mudará completamente sua vida e a de sua família.
Com exceção dos filmes de José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", o Brasil não é um país de grande tradição no cinema de terror e, para mim, apreciadora do gênero, sempre é um prazer ver uma incursão nesse sentido de um filme nacional. Com certo pé atrás, fui assistir a essa obra que, no final das contas, acabou por me surpreender positivamente. O filme começa muitíssimo bem, com um clima sombrio, mas sem resvalar exatamente para o terror - Stênio convive com seu "poder" sem sobressaltos, ele interage com seus "clientes" do IML sem qualquer receio e tampouco sofre consequências por conta dessa interação. A situação, no entanto, muda, quando Stênio se aproveita de "informações privilegiadas" recebidas do além e age de acordo com essa informação, modificando o que seria o curso natural de sua vida. Daí, sim, a coisa muda de figura e Stênio passa a ser assombrado pelas almas torturadas "lá do outro lado", momento em que o filme abraça, abertamente, o gênero terror. A obra, nesse momento, ganha em tensão e ritmo, conseguindo manter a qualidade até bem perto do final, quando, na minha opinião, perde um pouco o fôlego - o desfecho poderia ser diferente, mas não chega a estragar o filme. O filme tem bons efeitos especiais que ajudam na composição do clima - as maquiagens estão excepcionais, os cadáveres no IML são incrivelmente reais. Temos algumas cenas dos detestáveis "jumpscares" que eu não curto muito, mas o filme se consolida mesmo no terror psicológico, no bom e velho "climão". O elenco aposta em duas "feras": Daniel de Oliveira é um ator muito competente e não deixa a peteca cair como Stênio, convencendo como o torturado funcionário do IML; Fabíula Nascimento é, também, uma ótima atriz, que, via de regra, sabe escolher bem seus personagens e, aqui, interpreta Odete, esposa de Stênio; completando o elenco, temos Marco Ricca como Jaime, num papel limitado, porém importante; e Bianca Comparato, uma atriz que eu não conhecia, mas que se saiu bastante vem como a personagem Lara. Apesar de ter lido críticas negativas à obra, eu gostei bastante, mesmo tendo, dentre as produtoras envolvidas, uma participação da Globofilmes. Na minha opinião, o público do cinema nacional é um público dividido entre aquele que assiste às comédias infames com jeito de "Zorra Total", e aquele habituado ao cinema autoral, com profundidade temática e linguagem cinematográfica ousada; como "Morto Não Fala" não se encaixa em nenhum destes extremos, é compreensível ele ser fustigado pelos dois tipos de espectadores. Como não me vejo limitada a nenhum dos padrões, eu consegui curtir o filme e gostar do resultado - não é uma obra prima, mas é um filme de terror bem feito e resolvido. Para quem curte terror, eu recomendo.
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