Filme do dia (91/2017) - "Muito Além do Jardim", de Hal Ashby, 1979 - Chance (Peter Sellers) mora desde que nasceu em uma mansão. Trabalhando desde muito cedo como o jardineiro do imóvel, ele jamais saiu das dependências da casa e seu pouco conhecimento limita-se à jardinagem e ao que assiste pela televisão, na qual é viciado. Quando o dono da mansão falece, Chance é colocado para fora e sai para conhecer o mundo.

Crítica feroz ao poder da mídia e à idiotização da sociedade, o filme é hábil em causar desconforto no espectador. O personagem Chance é ingênuo e intelectualmente limitado; também, demonstra certa alteração comportamental, pois aparentemente não tem grande empatia pelo próximo, apesar de tratar todos com cortesia, sugerindo um leve autismo. No entanto, suas falas simples e textuais são interpretadas como metafóricas e filosóficas pelas pessoas que o cercam, que passam a acreditar que ele tem uma visão profunda sobre política, sociedade e economia que ele simplesmente não tem. Apesar de existir um fundo cômico nessa interpretação equivocada, a melancolia que me despertou foi infinitamente maior do que qualquer graça que poderia ser daí extraída. Apesar de ótimo, foi realmente um filme que me angustiou. A cena final é metafórica, interpretativa, destoando um pouco do restante da obra, mas facilmente compreendida (sem spoilers). O roteiro enxuto é auxiliado pelas ótimas interpretações do trio de atores principais - Shirley MacLaine e Melvyn Douglas, como Eve e Ben Rand, respectivamente, dão vida ao casal milionário que acolhe Chance e o lança na sociedade como o misterioso Chauncey Gardner; e Peter Sellers está simplesmente estupendo como o idiotizado Chance, completamente alheio ao mundo que o cerca e absorvido pela programação de tv (nada mais atual, não?). O filme é ótimo, vale demais à pena (mas é um falatório sem fim, já aviso). Recomendadíssimo.
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