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hikafigueiredo

"Não! Não Olhe" ("Nope"), de Jordan Peele, 2022

Filme do dia (101/2022) - "Não! Não Olhe" ("Nope"), de Jordan Peele, 2022 - Após o estranho falecimento de seu pai, O.J. (Daniel Kaluuya) precisa tocar o rancho de cavalos adestrados que seu pai lhe legou. Com a ajuda de sua irmã Emerald (Keke Palmer), ele continua adestrando os animais, sem saber de um estranho perigo que os espreita.





De alguns anos para cá, três diretores foram responsáveis por dar um novo fôlego ao gênero terror - Ari Aster, Robert Eggers e, claro, Jordan Peele. O último tem marcado território com filmes que, além de deixar os espectadores tensos em suas poltronas, trazem sempre alguma crítica social embutida. Se em "Corra!" (2017), o diretor denunciava o racismo estrutural e em "Nós" (2019), a lógica excludente do próprio capitalismo, em "Nope" ele faz uma crítica à "sociedade do espetáculo" e a doentia necessidade de ser visto e reparado em meio à multidão. Mas, que fique claro, Peele é hábil em fazer com que seus filmes se equilibrem entre a crítica e o terror, de forma que dificilmente um espectador saia insatisfeito, goste este de obras sérias ou somente de um bom entretenimento. Diferentemente dos filmes anteriores, em que a tensão emanava de acontecimentos, digamos, sobrenaturais, aqui o terror tem uma outra natureza, muito mais verossímil e próxima da realidade - mas eu não vou me alongar nisso para não dar spoiler e acabar com a brincadeira do amiguinho rs. A narrativa é não linear, pois há a alternância da história principal com um acontecimento do passado que marcou a vida de Jupe, o vizinho do rancho, proprietário de um parque temático - as duas histórias tem questões em comum que só se tornam mais evidentes do meio para o fim da obra (tenha um pouco de paciência). O ritmo é bem marcado e variável, acompanhando os picos de tensão do filme. A atmosfera, como era de se esperar, é nervosa e angustiante (mas, na minha opinião, infinitamente menos que as obras anteriores do diretor). O roteiro, do próprio Jordan Peele, é super amarrado, tem ótimas soluções e não deixa pontos nebulosos ou pontas soltas. A fotografia do filme aproveita os grandes espaços do deserto onde fica o rancho para alternar planos gerais e próximos. Os muito efeitos especiais são ótimos e fazem toda a diferença, bem como a edição de som, igualmente excelente. O elenco traz, outra vez, Daniel Kaluuya como protagonista, repetindo a dobradinha de "Corra!". Eu sou suspeita, porque adoro o ator, ele é super versátil e aqui faz um O.J. bastante deslocado desta sociedade que a tudo torna espetáculo - o personagem só quer ficar na dele, adestrando seus cavalos e cuidando de sua vida, sem querer ser o centro das atenções de nada. No papel de Emerald, personagem antítese do irmão O.J. graças à sua desenvoltura e comunicabilidade, Keke Palmer, numa ótima interpretação; como Jupe, Steve Yeun, conhecido por sua participação na série "The Walking Dead" e também em "Minari" (2020), numa interpretação correta, mas pouco marcante; Brandon Perea interpreta Angel, e Michael Wincott, o documentarista Antlers, ambos ótimos. Eu adorei o filme, é mega tenso e mantém a qualidade da filmografia de Jordan Peele - além de normalizar a presença de atores negros em personagens comuns (que não estão ali para marcar uma característica essencial do personagem), coisa que já passou da hora de acontecer em Hollywood, né? Recomendo muito (e acho que deve ser visto no cinema).

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