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“Não Nos Moverão”, de Pierre Saint Martin Catellanos, 2024

hikafigueiredo

Filme do dia (138/2024) – “Não Nos Moverão”, de Pierre Saint Martin Catellanos, 2024 – Socorro (Luisa Huertas) é uma advogada que traz consigo o trauma da morte do irmão em uma manifestação estudantil em 1968, durante a ditadura mexicana. Já idosa, ela jamais abandonou a expectativa de encontrar o militar que torturou e matou seu irmão para dele se vingar. Quando ela recebe um pacote em sua casa, ela acredita que seja chegada a hora da vingança.




 

Sem meias palavras – eu detestei o filme, por tantos motivos que é até difícil de elencá-los. Tratando de um tema complexo e doloroso – a ditadura militar mexicana que, como as demais ditaduras militares latino-americanas das décadas de 60/70, vitimou milhares de pessoas – a obra foca, especificamente, na irmã de uma das vítimas que almeja vingar-se do soldado que torturou e executou seu irmão. Pois bem – o tema difícil é trabalhado da maneira mais inadequada e equivocada possível. No intuito de humanizar os algozes – o que não deve ser invalidado completamente, claro -, o diretor simplesmente não se posiciona quanto à questão – e, cá entre nós, é inadmissível não se posicionar contra um governo de exceção que usou seu poderio político e militar para torturar e matar milhares de pessoas!!!! O diretor simplesmente relativiza a questão, desautoriza a indignação da protagonista, que é retratada como uma velha meio maluca, “a exagerada que não superou a morte do irmão”, e chega ao ABSURDO de sutilmente culpabilizar a vítima – afinal, se o rapaz não estivesse se manifestando politicamente contra o governo, isso não teria acontecido. A frase da personagem “eu não concordava com ele, eu queria que ele parasse, mas também não queria que ele morresse” é uma das colocações mais nojentas que eu me lembro de ter visto em um filme sobre essa temática. Eu nem vou dizer que o posicionamento do diretor foi ambíguo – nada!!!! Ele não ficou em cima do muro não, ele esfregou na cara do espectador que os militares não eram assim tão maus, eles eram seres humanos, os soldados eram tão jovens (contém ironia). Desculpe, mas o filme é um desserviço para a humanidade!!!! E os problemas não param por aí. Não bastasse ser inconsequente e leviano, o filme é também superficial, e usa de um humor obsceno e deslocado para tratar de um assunto que não tem qualquer graça. E, por fim, o filme é inconsistente até a medula dos ossos. A relação de Socorro com o filho e a nora existe no filme só para fazer volume, porque não tem qualquer relevância para o desenrolar da trama; a súbita alteração de comportamento da tal tia que vivia com a protagonista – e cujo grau de parentesco com Socorro jamais é explicado – chega às raias do ridículo; a função de outros personagens, como o juiz com quem ela conversa ao telefone ou o zelador, também não fica clara; e a própria Socorro é extremamente mal construída, é uma personagem que tem uma motivação visceral e que, do nada, isso se perde. Em suma: o filme é todo errado, todo!!!! Se alguma coisa se salva é a bela fotografia P&B que dá ares de antiguidade à narrativa e que remete à questão de a protagonista estar estagnada naquele dia de 1968, quando seu irmão foi assassinado. Bom... o diretor precisava ver umas vinte vezes o filme “Ainda Estou Aqui” (2024) para ver se recebe algum letramento político quanto à questão. Péssimo, péssimo. Se for para ver é só para tacar pedra. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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