Filme do dia (70/2018) - "Negação", de Mick Jackson, 2016 - Após acusar o controverso escritor David Irving (Timothy Spall) de ignorar verdades históricas e negar a ocorrência do Holocausto, a historiadora Deborah Lipstadt (Rachel Weisz) é processada por difamação. O processo, movido na Inglaterra, seguindo o sistema jurídico inglês onde o ônus da prova cabe à defesa, exige que a historiadora comprove sua inocência.
Baseado em fatos reais, a obra se concentra na batalha jurídica travada entre a historiadora Deborah Lipstadt e o escritor simpatizante de Hitler David Irving, mostrando a dificuldade encontrada pelos advogados de defesa para comprovar - sem precisar expor os sobreviventes dos campos de concentração - a ocorrência da política de extermínio sistematizado de judeus através das câmaras de gás. O filme é interessantíssimo porque mostra um famoso caso (possivelmente um dos primeiros, talvez) de "pós-verdade" evidente: o escritor, a despeito de toda a extensa documentação histórica existente sobre o tema Holocausto, negou explicitamente sua ocorrência, baseando sua tese em premissas falsas, opinião pessoal e mero "achismo" - e, por mais incrível que isso pareça, conseguiu angariar simpatizantes e apoiadores (nitidamente em grupos racistas e neonazistas). Quer coisa (infelizmente) mais atual do que a negação das evidências históricas, a supervalorização da opinião pessoal em detrimento do conhecimento e da pesquisa e a defesa apaixonada de pontos de vista dissociados de fatos minimamente comprováveis???? Como estamos vivendo uma assustadora disseminação da "pós-verdade", vale a pena assistir ao filme para ter uma ideia aproximada do estrago que essa aberração pode causar. Apesar de normalmente não curtir muito filmes de tribunal, fui completamente seduzida pela obra. Rachel Weisz faz uma Dra. Lipstadt apaixonada, indignada até os ossos com o desrespeito devido aos mortos e sobreviventes pela negação do Holocausto; Timothy Spall (difícil olhar para ele e não ver o "Rabicho" de Harry Potter....) dá forma a um indivíduo verdadeiramente asqueroso dadas as suas convicções e explícita má-fé; e Tom Wilkinson angaria simpatia como o advogado de defesa Richard Rampton dando nó em pingo d'água para comprovar a inocência da historiadora. A obra é sóbria e paradona, mas é bem boa. Assistam sem medo.
Komentáře