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  • hikafigueiredo

"Ninguém Sabe que Estou Aqui", de Gaspar Antillo, 2020

Filme do dia (40/2021) - "Ninguém Sabe que Estou Aqui", de Gaspar Antillo, 2020 - Em uma localidade distante do Chile, na companhia de seu tio Braulio (Luis Gnecco), vive Memo (Jorge Garcia), um homem tão silencioso quanto enigmático. Obeso e carregando inúmeros traumas do passado, Memo guarda um segredo. A presença da jovem Marta (Millaray Lobos) fará com que esse segredo venha à tona.





Nesta produção chilena da Netflix, discute-se alguns temas importantes e nem sempre tratados com a seriedade necessária: a imposição de padrões estéticos pelos canais midiáticos, a gordofobia e a falta de oportunidades para quem não segue os tais padrões estéticos impostos. Indiretamente, o filme ainda trata de abuso parental e exploração de menores. O personagem Memo, desde criança fora do padrões por estar acima do peso considerado "normal", traz consigo traumas relacionados à sua imagem. Silencioso ao extremo e com evidente fobia social, Memo vive, incógnito, com seu tio, em uma fazenda de ovelhas afastada de tudo e de todos. Ele sonha com uma vida de sucesso e reconhecimento, possibilidade que lhe foi tirada, ainda na infância, quando tentou lançar-se como cantor mirim, graças a um talento incomum. Mais do que tudo, foi-lhe tirada a sua voz - afirmação com mais de um significado - e deixado na mais extrema solidão. A narrativa explora, com habilidade, essa situação do personagem - são inúmeras as cenas de Memo sozinho, quieto ou, ainda, simulando a possibilidade de sucesso que lhe foi arrancada das mãos. A narrativa é majoritariamente linear, mas há a inserção de alguns flashbacks relacionados à traumática infância de Memo. O ritmo é lento a moderado e a atmosfera explora a angústia do personagem emudecido. A narrativa, também, transcorre de uma maneira um pouco irregular - muito lenta no início e um tanto atabalhoada na segunda metade -, o que não chega a comprometer o resultado. O filme traz uma fotografia caprichada, com enquadramentos sofisticados, inclusive várias cenas de plongée absoluto (aparentemente uma obsessão do diretor). Jorge Garcia - o queridíssimo Hurley de Lost - traz uma interpretação poderosa, muito mais calcada em olhares magoados e movimentação desconfiada do que em qualquer fala (até porque o personagem fala muito pouco ao longo da história). Millaray Lobos tem uma atuação com pouco brilho, inclusive por não conseguir se nivelar a Jorge Garcia. É uma obra um pouco dolorosa no começo, mas com um desfecho razoável que a torna mais "bonitinha" ao seu término. Não vou dizer que é um filme inesquecível, mas foi uma experiência agradável que pode ser visto bem de boa. Recomendo sem alarde.

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