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hikafigueiredo

"Nuvens de Verão", de Mikio Naruse, 1958

Filme do dia (369/2021) - "Nuvens de Verão", de Mikio Naruse, 1958 - No pós-guerra, uma família de camponeses precisa se adaptar aos novos tempos, quando os jovens escolhem seus próprios caminhos e ignoram antigas tradições.




Tendo como pano de fundo a vida no campo no Japão do pós-guerra, a obra trata, em linhas gerais, das modificações sociais e familiares e no conflito de gerações. O patriarca de uma família de camponeses comanda, com mão firme, a vida dos filhos, tentando decidir aquilo que ele acredita será melhor para os jovens. Sua irmã mais nova, de outra geração, encontra-se na interface entre as tradições e as mudanças na sociedade japonesa. Os filhos do patriarca, por seu lado, buscam liberdade e não veem a vida de lavradores como única opção para sobreviverem. Apesar do velho tentar segurar seus filhos, os jovens passam a decidir seus próprios passos, para a incompreensão do pai. A irmão caçula, por sua vez, tenta intermediar as relações explosivas advindas deste choque de gerações. O filme retrata, ainda, um momento de intensa urbanização e grande êxodo rural, quando os jovens viam, na realidade das cidades, uma alternativa à pesada vida no campo. A obra retrata diversas nuances da vida familiar e da realidade social daquele momento no Japão, como a maior autonomia dos filhos, a independência feminina, a procura pelo estudo universitário, o esfacelamento de casamentos arranjados, a perda de poder dos patriarcas, dentre outros. A narrativa é linear, em ritmo agradável e mais intenso do que o comum para os filmes orientais (mas ainda lento se comparados aos filmes hollywoodianos). A atmosfera mescla o desalento da geração dos pais em contraposição à energia e disposição para mudança da geração dos filhos. O primeiro filme em cores do diretor aproveita a beleza cênica natural dos campos verdejantes do Japão e entrega uma fotografia bem contrastada e saturada, numa linguagem bastante convencional (considerando o cinema clássico norte-americano), privilegiando planos médios e, eventualmente, planos mais abertos, sempre em câmera fixa. A trilha sonora aposta em músicas orquestradas sem quase qualquer interferência da sonoridade típica japonesa. O elenco, enorme, traz Chikage Awashima (atriz que eu não me lembro de conhecer) como a irmã Yae, Ganjiro Nakamura como o patriarca Wasuke, Isao Kimura como o jornalista Okawa, Keiju Kobaiashi como Hatsuji, Hiroshi Tachikawa como Shinji, Yoko Tsukasa como Michiko e Kumi Mizuno como Hamako. Haruko Sugimura faz uma pequena ponta, todos ótimos, com destaque para Chikage Awashima. É um belo filme sobre conflito de gerações e sobre a realidade do Japão após a Segunda Guerra. Vale a visita.

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