“O Último Golpe”, de Michael Cimino, 1974
- hikafigueiredo
- 13 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Filme do dia (72/2024) – “O Último Golpe”, de Michael Cimino, 1974 – O experiente criminoso Thunderbolt (Clint Eastwood) é perseguido por antigos comparsas de crimes. Em sua fuga, conhece o expansivo Lightfoot, um jovem alegre que não se importa em cometer pequenas contravenções. Ao saber do passado de Thunderbolt, Lightfoot tenta convencê-lo a praticar um último golpe.

Em seu primeiro longa-metragem, Michael Cimino – diretor do excelente “O Franco Atirador” (1978) – já mostrava ao que vinha, trazendo um filme extremamente autoral e completamente inserido nos preceitos do cinema do movimento Nova Hollywood. Com roteiro escrito pelo próprio Cimino, a obra consiste em um road movie repleto de ação e drama, com uma sólida construção de personagem e direção praticamente impecável, a despeito da inexperiência do diretor. A história começa com uma quase imediata perseguição – sem sabermos de nada, vemos o personagem Thunderbolt paramentado de padre, fugindo de um atirador. É nessa situação inusitada que ele conhece Lightfoot, o qual, involuntariamente, acaba ajudando-o a se desvencilhar de seu perseguidor. As diferenças de personalidade e idade não impedem que os dois personagens desenvolvam, rapidamente, uma simpatia mútua, que, em pouco tempo, transforma-se em uma nascente amizade. O olhar de admiração de Lightfoot para o experiente Thunderbolt é patente, enquanto o último contagia-se pela leveza e alegria do jovem companheiro. A narrativa é linear e apresenta dois arcos bem distintos e cuja transição, na minha opinião, é um pouco abrupta. Apesar do primeiro arco trazer o encontro dos dois personagens e a consolidação da amizade entre eles, foi no segundo que o filme me conquistou, trazendo ação com força total – e olha que eu nem sou fã do gênero. Mas não se engane: por trás dessa ação toda, há um componente dramático bem consistente, que se manifestará mais firmemente lá no finalzinho da obra. Como é comum nos filmes da Nova Hollywood, a obra termina de uma maneira bastante anticlimática – o que identificamos como clímax acontece bem antes do fim da história, muito embora terá repercussão direta com os últimos acontecimentos. A atmosfera do filme é bem variada – temos momentos em que o humor prevalece, outros em que a tensão domina e, mesmo, um ponto em que a tristeza nos tomará de assalto, acabando conosco. Apesar do roteiro ter um desenvolvimento bem concatenado, achei algumas cenas completamente desnecessárias, como a cena em que Lightfoot aborda uma garota numa motocicleta – não entendi qual a função dessa cena, sinceramente. Mas não dá para falar do filme sem dar um destaque especial para os atores que protagonizaram a dupla de personagens Thunderbolt e Lightfoot. Clint Eastwood já havia consolidado seu nome no cinema através de personagens “durões”, perigosos e determinados quando interpretou seu Thunderbolt, o qual presta uma verdadeira homenagem a todas aquelas figuras anteriores. Clint Eastwood, lógico, tira de letra mais esse personagem, mas o enche de humanidade. Já Jeff Bridges começara sua carreira há apenas três anos quando aceitou o papel de Lightfoot – no entanto, teve todo seu talento reconhecido desde seu primeiro papel, no excepcional “A Última Sessão de Cinema” (1971), pelo qual foi indicado ao Oscar (1972) na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Aqui, Jeff Bridges estoura como Lightfoot, trazendo alegria, humor e extroversão ao personagem. Sua performance foi tão extraordinária que ele ganhou sua segunda indicação ao Oscar (1975), na mesma categoria. No elenco, temos, ainda, George Kennedy como Red Leary, Geoffrey Lewis como Goody e Gary Busey em uma breve ponta como Curly. Mais um filmaço da Nova Hollywood, só aviso que fiquei arrasada com o desfecho (sem spoilers). Gostei e recomendo. Segundo o Justwatch, o filme está para aluguel no Apple TV e no Amazon Prime.
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