Filme do dia (79/2019) - "O Animal Cordial", de Gabriela Amaral Almeida, 2017 - Inácio (Murilo Benício) é o dono de um restaurante bacanudo, mas quase falido. Ele tem uma relação tensa com o cozinheiro Djair (Irandhir Santos) e é reverenciado pela garçonete "puxa-saco" Sara (Luciana Paes). Certa noite, o restaurante é assaltado por dois rapazes, mas Inácio não está disposto a aceitar pacificamente essa violência, dando início a uma longa noite de terror.
A diretora envereda por um terreno incomum no cinema nacional - o terror slasher, aquele gênero de assassinatos em série promovidos por um personagem com evidente desequilíbrio psicológico. Aqui, o psicopatinha da vez é Inácio, e, embora o gatilho para a sua espiral de loucura seja o assalto, seu desequilíbrio fica evidente bem antes deste fato. Quando acontece o roubo, diversas tensões envolvendo Inácio, os funcionários e os poucos clientes presentes emergem, tensões que revelam questões sociais, econômicas e, claro, sexuais. Aliás, o apelo sexual da obra é gritante e algumas das melhores cenas são as que explicitam isso - Inácio lambendo os dedos, o olhar desejoso de Sara para Inácio e a maravilhosa cena de relação sexual do filme. O argumento da obra é perfeito, o desenvolvimento da narrativa é excepcional e o desfecho é bem razoável (a última cena é bárbara) - no entanto, tem um "buraco" da história que exigia uma explicação e esta explicação simplesmente não existe!!!!! Isso por pouco não estraga o filme todo e confesso que me deu uma "broxada" em relação à obra (o que me deixou muito pau da vida, porque, até ali, o filme estava irrepreensível). Não posso pormenorizar mais sob o risco de dar um super spoiler, mas deixo aqui minha queixa acerca disto. Mas, apesar deste furo, o filme tem muito mais virtudes que defeitos. Além do roteiro consistente e direção segura, o filme conta com uma fotografia caprichada, que aproveita bem o único ambiente e ajuda a criar uma atmosfera pesada e claustrofóbica graças às escolhas de posicionamento de câmera e planos fechados. A trilha sonora funciona bem e, por vezes, é responsável por certo estranhamento na obra (como na última cena). Mas é impossível elogiar o filme sem passar pelas atuações exemplares do elenco. Murilo Benício mostra todo o seu talento como o psicopata Inácio - as cenas dele com o espelho - são umas quatro cenas diferentes - são inacreditáveis de boas e seu olhar obcecado hipnotiza o espectador; Irandhir Santos - aaaaah, Irandhir !!! <3 <3 <3 - como de costume dá show como o cozinheiro Djair (ele nunca pisa na bola, ele é sempre incrível); mas, o destaque fica por conta de Luciana Paes - cara, ela é muito boa!!! No elenco, ainda, Camila Morgado, Humberto Carrão e o veterano Ernani Moraes, todos muito bem. Olha... se você conseguir ignorar o tal buraco, vai curtir muito o filme. Quanto à diretora Gabriela Amaral Almeida, devemos ficar de olho nela... ;)
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