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hikafigueiredo

"O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, 2006

Filme do dia (173/2021) - "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, 2006 - Brasil, 1970. Mauro (Michel Joelsas) é um menino de doze anos, cujos pais, envolvidos com a militância política de esquerda, precisam se esconder da ditadura de então. Para não impor riscos ao filho, eles deixam Mauro aos cuidados do avô paterno e dizem ao garoto que estão saindo de férias. Em meio ao clima festivo da Copa Mundial de Futebol, Mauro aguarda o retorno de seus pais.





Definitivamente, minha memória me trai. Muito melhor do que eu me recordava, o filme trata de um sem número de questões e temas com sensibilidade e sutileza. O assunto central, aqui, é o regime ditatorial militar imposto ao Brasil nos anos 60 e 70. Tratado de forma sutil e com certa delicadeza - pelo menos se comparado a outras obras como "Pra Frente Brasil" (1982) ou "Batismo de Sangue" (2006) -, o tema surge de forma esporádica ao longo da história e acena com questões como as perseguições políticas, as prisões arbitrárias, as torturas, os assassinatos de presos políticos e o exílio. Encobrindo a temática central, a balbúrdia em torno da Copa Mundial de Futebol de 1970, inebriando o povo e desviando o foco de assuntos mais polêmicos. Correndo por fora, temas como empatia, responsabilidade, amadurecimento e afetos também marcam a história. A narrativa se dá pelo olhar infantil e ingênuo do personagem Mauro, um menino de doze anos completamente à margem das questões políticas que se impunham à época. Assim, por mais que o garoto entrasse em contato com a violência do regime, isso se dava de forma distante e um tanto quanto desligada do cotidiano do menino. É interessante perceber como essa violência aproxima-se cada vez mais de Mauro e a despeito da pouca compreensão do garoto acerca do que acontecia ao seu redor, isso acaba por acelerar o amadurecimento do personagem (o que é possível ver quando Mauro opta por ir ver Shlomo ao invés de acompanhar o jogo da Copa no bar com seus amigos). Outro ponto que me tocou foi a maneira como Mauro é acolhido pela comunidade de seu avô, evidenciando a importância da empatia e do acolhimento ao "outro", ao diferente. O filme ainda desenvolve questões relacionadas à infância e é doce ver o menino fazendo laços de afeto e amizade com pessoas tão diversas como Shlomo, Hanna, Ítalo e Irene. A narrativa é linear, num ritmo pausado mas com alguns picos de intensidade. A atmosfera é melancólica por vezes, festiva em outros momentos, mas persiste certa apreensão, como um "ruído" ao fundo. Tecnicamente o filme é caprichado, com destaque para a direção de arte de época e uma trilha sonora variada que vai de músicas judaicas à Jovem Guarda, passando, claro, pelo hino "Pra Frente Brasil", que marcou a Copa de 70 e que se encontra irremediavelmente vinculado ao regime militar da época. No elenco, profissionais do gabarito de Simone Spoladore como a mãe de Mauro e Caio Blat como Ítalo. Destaco o trabalho fantástico de Germano Haiut como Shlomo e a revelação mirim Daniela Piepszyk como Hanna (a menina é fantástica!). Como protagonista, Michel Joelsas com uma interpretação um pouco irregular - tem momentos ótimos e outros não tão bons, mas, na média, ele deu conta do recado. É interessante ver a evolução do personagem, que começa a obra como um menino insuportável - mimado, egoísta, malcriado - e termina com um olhar mais humano, empático e acolhedor para os demais. Olha... é um filmão, miiiiiiil vezes melhor do que eu me lembrava. Vale demais a visita!!!!

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