Filme do dia (76/2024) – “O Caçador de Dotes”, de Elaine May, 1971 – Após gastar toda a sua fortuna por conta de seu estilo de vida perdulário, o playboy falido e cinquentão Henry Graham (Walter Matthau) precisa encontrar, em poucos dias, uma milionária que aceite se casar com ele, salvando-o, assim, da miséria. Quando conhece a rica e desengonçada Henrietta Lowell (Elaine May), ele encontra sua vítima perfeita.
Ainda visitando o 4º box de “O Cinema da Nova Hollywood”, deparo-me com essa curiosa comédia romântica, diferente de todas as obras desse gênero, pois muito mais próxima da comédia ácida do que os filmes deste tipo costumam ser. Na história, acompanhamos o intragável “bon vivant” Henry Graham, que durante seus últimos quinze anos esbanjou sua herança milionária sem se preocupar com o amanhã. Ocorre que o arrogante e inútil playboy descobre que está falido, sem qualquer tostão para bancar seus luxos nababescos. Como única solução para seu drama de pobreza, Henry resolve procurar uma ricaça para se casar, com a clara intenção de enviuvar assim que possível. Ele conhece Henrietta, uma milionária desajeitada e sem qualquer traquejo social, cuja grande paixão é a botânica. Diferentemente de Henry, Henrietta não se interessa por dinheiro ou luxos, trabalha dando aulas de biologia e tem o único sonho de descobrir uma nova espécie de samambaia para eternizar seu nome através da botânica. Henry logo percebe que Henrietta é perfeita para os seus planos e parte para o ataque, conquistando-a em pouco tempo. O filme é surpreendente, pois, ao mesmo tempo em que brinca com um humor ácido – na medida em que Henry faz planos para se livrar da esposa o quanto antes -, acaba tendo um lado fofo, e um desfecho ainda mais doce, inimaginável no começo da história. Mas, se por um aspecto a narrativa enternece, por outro ela perde um pouco de credibilidade. Explico o motivo: eu achei a mudança do personagem Henry, um sujeito abominável no início da narrativa, um tanto quanto exagerada; sua evolução – tanto intelectual, quanto, digamos, moral - acontece rápido demais, e isso me incomodou um pouco. Okay, comédias românticas são usualmente previsíveis, e, com frequência, tendem para histórias melosas, mas, aqui, o degrau ficou um pouco alto demais. Mas, como sou quase tão rabugenta quanto os personagens do ator Walter Matthau, desconfio que esse incômodo é bem pessoal e não vai atingir a maioria dos espectadores. Talvez por ser uma comédia romântica, achei a crítica embutida no filme bem mais amena do que aquela encontrada nos demais filmes do box – no caso, há uma crítica evidente ao estilo de vida e valores assumidos por Henry e uma clara contraposição às convicções de Henrietta, mas tudo isso é bem diluído em meio ao humor e ao romance da história. Mas, o forte do filme, mesmo, são as interpretações da dupla central: Walter Matthau repete o tipo mau humorado que lhe fez fama, dando vida ao inicialmente canalha e infame Henry; já Elaine May – que, além de atuar, roteirizou e dirigiu a obra -, mostra seu perfeito timming para a comédia como a desastrada, tímida e ingênua Henrietta. Por sua interpretação, Elaine May concorreu ao Globo de Ouro (1972) na categoria de Melhor Atriz em Comédia ou Musical, enquanto o filme foi indicado ao mesmo prêmio na categoria de Melhor Filme de Comédia ou Musical. Eu gostei do filme, mas o achei mais fraco que os demais do box. Em todo caso, é uma obra válida, principalmente para os amantes de comédias românticas. Segundo o Juswatch, o filme está para alugar na Amazon, no Apple TV, no Youtube, dentre outros (mas acredito que sem legendas).
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