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"O Fim do Mundo", de Rudolph Maté, 1951

  • hikafigueiredo
  • 20 de dez. de 2022
  • 2 min de leitura

Filme do dia (155/2022) - "O Fim do Mundo", de Rudolph Maté, 1951 - Dois astrônomos descobrem dois planetas em movimento, um deles em rota de colisão com a Terra. Passam, então, a buscar financiadores para a construção de um foguete que levaria algumas pessoas para colonizar um dos planetas em direção à Terra.





Comecei a assistir a esse filme sem qualquer expectativa e acabei me surpreendendo, principalmente por ele discorrer sobre temas complexos, como o instinto de sobrevivência e a consciência da morte, com um bocado de cuidado e certa dose de reflexão. O roteiro baseia-se em um romance de ficção datado de 1933 e traz para a tela uma questão incômoda: a insignificância da ser humano em face do universo. Diante da tragédia certa - a colisão de um enorme corpo celeste contra o planeta Terra, o que condenaria toda a vida do planeta, inclusive a Humanidade - tem-se a noção da fragilidade humana e de como não possuímos qualquer controle sobre nossa existência. Na história, alguns cientistas, inconformados com a destruição de toda a humanidade e de todo conhecimento por ela acumulado, buscam, num último esforço, uma forma de salvar alguns representantes dos seres humanos, os quais levariam, consigo, a cultura e o conhecimento desenvolvido ao longo de toda a jornada humana. Enquanto correm contra o tempo para construir uma nave que possibilite levar a preciosa carga para um dos planetas que vêm em direção à Terra, os envolvidos se deparam com questões filosóficas como quem precisa ser salvo e quem é dispensável, ou, ainda, como aceitar a finitude da vida e acatar que outros terão a chance de seguir sua existência, mas você talvez não. Esses temas espinhosos são tratados com sutileza e, claro, com pouca profundidade, mas abrem espaço para discussões bem interessantes. A narrativa é linear, em ritmo moderado. A atmosfera é tensa e angustiante, principalmente por trazer para tão perto temas dolorosos como a morte. Apesar de ser uma ficção científica, existe o cuidado de não tratar as questões levantadas com tintas exageradas ou absurdas, buscando uma proximidade da realidade. Também é perceptível o cuidado técnico, que faz com que a obra não resvale para um "filme B" - cabe ressaltar que o filme foi agraciado com o Oscar (1952) de Melhores Efeitos Visuais, os quais, se não são fascinantes como os que temos hoje com o CGI, certamente estão muito acima do que tínhamos naquela época. O elenco, encabeçado por Larry Keating como Dr. Hendron, Bárbara Rush como Joyce Hendron, Richard Derr como David Randall e John Hoyt como Sydney Stanton, mostra-se afinado e traz interpretações cuidadosas. Um aparte: como outros filmes da década de 50, temos aqui um exemplo do machismo estrutural: mais uma vez, todos os cargos de pesquisadores e cientistas são ocupados por homens, restando, às mulheres, cargos técnicos menores (aqui pelo menos elas tem alguma projeção intelectual, ao contrário do sofrível "20 Milhões de Léguas à Marte", 1956). A obra me remeteu a outra de temática semelhante, o pesado "Melancolia" (2011), de Lars Von Trier. Eu achei que o filme tem conteúdo e se sustenta bem sem precisar de cenas apelativas ou exageradas - foi uma pedida interessante e agradável, motivo pelo qual recomendo.

 
 
 

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