Filme do dia (349/2020) - "O Homem que Ri", de Paul Leni, 1928 - Inglaterra, 1690. Um nobre trai o rei James II e, como castigo, é condenado à morrer na "Dama de Ferro". Como parte de seu castigo, seu filho Gwynplaine tem seu rosto desfigurado por um cirurgião, que lhe confere um terrível "sorriso" eterno.
Baseado no romance homônimo de Victor Hugo, o filme traz elementos do expressionismo, muito embora seja uma obra produzida nos EUA, nos estúdios da nascente Universal Pictures. A história gira em torno do personagem Gwynplaine que, ainda na infância, tem seu rosto desfigurado por ordem do rei James II. O menino cresce, acolhido por um viajante nômade e, na via adulta, sobrevive de apresentações como palhaço, aproveitando sua terrível face desfigurada. A trama discorre sobre aparência e essência, sobre aceitação e sobre sentimentos verdadeiros. Evidente que, como todo romance de Victor Hugo, escancara-se a cruel e impiedosa natureza humana, e o personagem terá de sofrer muito para alcançar a merecida redenção. Ainda que Gwynplaine tenha estampado, em seu rosto, um eterno sorriso, sua aparência é algo assustadora, posto seu olhar, carregado de sofrimento e dor, não acompanhar o escancarado e artificial sorriso. A narrativa é linear, o ritmo é bem marcado e a atmosfera é triste e sombria. Mesmo com uma temática que a distancie do expressionismo, a obra carrega, em sua estética, elementos deste movimento. Assim, temos uma fotografia P&B extremamente contrastada, bem como uma tendência à assimetria e ao desequilíbrio. No elenco, Conrad Veidt interpreta Gwynplaine (eu acredito que tenham feito alguma maquiagem especial em seu rosto, aquele sorriso não pode ser natural!!!) e capricha nos olhares angustiados ou aterrorizados, uma vez que não pode realmente contar com sua expressão facial para transmitir qualquer sutileza. No papel de Dea, a apaixonada noiva cega de Gwynplaine, Mary Philbin. Destacam-se, ainda, Olga Vladimirovna Baklanova como Duquesa Josiana e Cesare Gravida como Ursus, o benfeitor de Gwynplaine e Dea. A obra é um tremendo melodrama e aproveita pouco o que a história oferece de soturno (a atmosfera sombria poderia ser muito melhor aproveitada se o diretor não tivesse optado por enveredar pelo melodrama fácil). Não é um filme ruim, mas diria que é uma obra menor dentro do expressionismo, ficando a anos-luz dos grandes filmes do movimento, como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920), "Nosferatu" (1922) ou "Metrópolis" (1927). Para ver após visitar outras obras. PS - Reza a lenda que o personagem Gwynplaine foi uma das inspirações para a criação do personagem Coringa, não sabendo dizer se isso procede realmente.
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