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  • hikafigueiredo

"O Hotel às Margens do Rio", de Hong Sang-soo, 2018

Filme do dia (356/2021) - "O Hotel às Margens do Rio", de Hong Sang-soo, 2018 - Em um hotel à beira de um rio congelado, o célebre escritor Yeong Hwan (Ki Joo-bong) marca um encontro com seus filhos Kyung-su (Kwon Hae-hyo) e Byeong-soo (Yu Jun-sang). Distante dos filhos, ele sente que tem pouco tempo de vida e quer se despedir. A algumas portas de distância do quarto de Hwan, a frágil Sang-hee (Kim Min-hee) tenta se recuperar de uma decepção amorosa na companhia de sua amiga Yeon-joo (Song Seon-mi).





Como todos os demais filmes do diretor Sang-soo, este também é marcado por seu caráter profundamente intimista e reflexivo. Nesta obra, o diretor trabalha com os ciclos da vida, trazendo situações de ruptura, onde os personagens estão em vias de superar uma fase - mas, enquanto a personagem Ah-reum encontra-se em sofrimento e tenta sobrepujar essa dor para voltar a ser feliz, Hawn, que já se encontra em equilíbrio, visa apenas acertar os ponteiros com seus filhos para transcender sem deixar arestas. Apesar de representarem sentimentos tão distintos, ambos os personagens encontram-se no exato momento de "quebra" de paradigma, de forma que se estabelece um diálogo entre as duas situações onde os dois personagens almejam, em última instância, sua paz de espírito . A narrativa é linear, no ritmo tradicionalmente ultra-lento das obras do diretor. A atmosfera é de desalento e embora o personagem Hawn encare sua morte iminente com serenidade, há um certa morbidez que permeia toda aquela situação. O roteiro tem um traço de contemplação e exige uma boa dose de reflexão por parte do espectador, que precisa interpretar as intenções do diretor. Visualmente, o filme é lindíssimo, trazendo um belo trabalho de fotografia P&B, que prioriza a luminosidade e os tons mais claros de cinza. Os planos são predominantemente longos, por vezes realmente planos-sequências, com cortes raros e discretos. Estão presentes movimentos de câmera, mas sem qualquer estardalhaço - são movimentos calmos e suaves que não aceleram minimamente o ritmo das cenas. A trilha sonora é pontual, sempre diegética, mas o que prevalece mesmo é o silêncio somado ao som ambiente. No elenco, a versátil atriz Kim Min-hee que já trabalhara com o diretor em "Certo Agora, Errado Antes" (2015), "Na Praia à Noite Sozinha" (2017) e "A Câmera de Claire" (2017), num desempenho sutil e corretíssimo como a desiludida Sang-hee e o ótimo Ki Joo-bong como o escritor que tenta "arrumar a casa" antes de partir. Destaque absoluto para a cena final, onde o som é priorizado em detrimento da imagem e não acompanhamos os movimentos dos personagens, mas apenas suas falas (sem spoilers). O filme é muito delicado, mas, como sempre em se tratando do diretor, exige ultrapassar a questão da lentidão da obra para se aproveitar o que ela oferece. Eu gostei, mas só recomendo para quem não se importa com esse ritmo oriental de cinema.

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