Filme do dia (266/2020) - "O Massacre da Serra Elétrica", de Tobe Hooper, 1974 - Texas, 1973. Um grupo de cinco jovens viaja pelas estradas do Texas em direção à antiga casa do avô de dois deles. Eles terão o infortúnio de se deparar com uma família de psicopatas assassinos e canibais que farão vítimas dentro do grupo.
Elevado a cult, esse filme de baixíssimo orçamento ganhou continuações e uma refilmagem em 2003, tamanho seu impacto junto ao público. Classificado como terror slasher, o filme consegue criar tal ambiente de pavor e repulsa e é tão realista que entrou para inúmeras listas de "melhores filmes de todos os tempos", criando toda uma linguagem e uma estética e fazendo escola junto às obras do gênero. O roteiro é extremamente simples, limitando-se ao um road movie com final trágico. A inovação encontra-se na linguagem utilizada, muito por conta das limitações orçamentárias. O filme foi rodado com, praticamente, uma única câmera, usada, em boa parte das filmagens, na mão do fotógrafo, aproximando-se, assim, da linguagem jornalística. Os efeitos especiais foram ínfimos e simples e contaram mais com a criatividade da equipe do que com sofisticação material ou tecnológica. Boa parte da história se passa à noite - justamente os trechos mais tensos - e as filmagens noturnas, extremamente escuras, onde quase só enxergamos a calça branca da personagem Sally, criam uma atmosfera de verdadeiro pânico, muito influenciada pela nossa própria imaginação. Apesar de slasher, o filme tem muitíssimo menos sangue e cenas explícitas do que inúmeros filmes-irmãos filmados posteriormente - o que pega, aqui, é o "climão", o desconforto, muito mais do que as cenas gore. A obra conta, ainda, com uma edição de som bem interessante, ainda que, em pelo menos meia hora, o que predomine sejam os gritos para lá de histéricos da personagem Sally (e pensar que quem ganhou o mais famoso título de "rainha do grito" foi Jamie Lee Curtis e não a atriz Marilyn Burns...). O elenco, formado exclusivamente por atores e atrizes iniciantes ou amadores, entrou de cabeça no filme e conseguiu algumas interpretações impressionantes - em especial a atriz Marilyn Burns como Sally, Gunnar Hansen como Leatherface e Edwin Neal como "o caroneiro, irmão de Leatherface. Duas cenas merecem destaque: a do jantar, uma das mais torturantes cenas que eu me lembro de ter visto no cinema, ao som dos gritos guturais da personagem Sally; e a icônica cena final, com a gargalhada insandecida da personagem, já fora de suas faculdades mentais, dentro da caçamba da caminhonete (eu vi essa cena uma dezena de vezes antes de ver a obra, ela passa em qualquer programa que fale sobre filmes de terror). Existem um sem números de interpretações para a obra, que vão da defesa do veganismo à metáfora para a Guerra do Vietnã, o espectador pode ficar à vontade para escolher a sua visão sobre o filme. É inegável, no entanto, que é um filme impressionante e influenciador, quase revolucionário, dentro do gênero, ainda que repercuta diferentemente junto ao público (eu adorei, minha filha odiou até sua última célula do corpo; segundo ela, "o filme deveria ser mantido no limbo do esquecimento" kkkkkkkk). Até pela sua importância dentro do terror, eu acho que merece e deve ser visto. Recomendo.
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