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"O Que Ficou Para Trás", de Remi Weeks, 2020

hikafigueiredo

Filme do dia (452/2020) - "O Que Ficou Para Trás", de Remi Weeks, 2020 - Bol (Sope Dirisu) e Rial (Wunmi Mosaku) são um casal de refugiados africanos que se encontra detido em um centro de imigração em Londres. Eles recebem permissão para sair e, enquanto esperam o término do processo de pedido de exílio, são realocados em uma casa na periferia da cidade. No entanto, naquele local, estranhos fenômenos começarão a acontecer.





A obra, indubitavelmente do gênero terror, abre espaço para a discussão de temas bastante pertinentes e poucas vezes discutidos, inclusive em obras de outros gêneros. No filme, os acontecimentos sobrenaturais que acontecem podem ser recebidos como metáforas para questões como o conflito entre o sentimento de pertencimento e o movimento no sentido da aculturação, como resposta à expectativa de aceitação por aquele que é diferente, como a culpa que reina em quem abandona os seus para trás. Todo o terror que brota na obra está intrinsicamente ligado aos demônios emocionais interiores dos personagens, aos seus sentimentos de negação e sua ansiedade para que tudo de resolva, de um jeito ou de outro. Também é evidente a crítica às políticas de imigração para refugiados, à xenofobia, ao racismo e à falta de empatia com o outro. Independente de todas as questões sérias envolvidas na história, que possibilitam diversas discussões e inúmeros questionamentos, o filme é, também, uma boa alternativa de entretenimento por si só, hábil em criar tensão e com algumas boas cenas de "jumpscare", contando, ainda, com um "plot twist" que justificará boa parte das ocorrências sobrenaturais que rolam na narrativa. Gostei da forma como são aproveitadas características culturais africanas na trama, é bem diferente. Claro que tem um monte de clichês, como movimentos estranhos no escuro que desaparecem quando se acendem as luzes, acontecimentos em segundo plano fora das vistas dos personagens, música dando o clima, mas nada exceda o script. Gostei da direção de arte, com destaque para a maquiagem e da utilização de poucos efeitos especiais. O trabalho de interpretação da dupla de protagonistas foi bastante convincente, lembrando que aqui não lidamos apenas com um terror "básico", mas com um sem fim de sentimentos complexos e contraditórios relacionados à identidade, medos, culpas e expectativas dos personagens - tenho de dizer que o olhar circunspecto de Wunmi Mosaku me deixou bastante impressionada. Para quem curte um Doctor Who, ainda temos a participação do ator Matt Smith, o décimo primeiro "Doctor" da série, aqui no elenco de apoio. Bem, no cômputo geral, o filme me agradou - talvez até mais pelas questões acessórias do que pela narrativa assustadora em si, mas certo é que me prendeu a atenção desde o primeiro minuto. Vale a visita.

 
 
 

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