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hikafigueiredo

"O Retorno do Herói", de Laurent Tirard, 2018

Filme do dia (377/2020) - "O Retorno do Herói", de Laurent Tirard, 2018 - França, 1809. O capitão Neuville (Jean Dujardin) é chamado à guerra. Sua noiva Pauline (Noemie Merlant), inconsolável pelo silêncio do noivo que não lhe escreve, cai doente. Sua irmã Elisabeth (Mélanie Laurent), temendo pela vida da jovem, começa a lhe escrever cartas, passando-se pelo capitão, contando seus feitos heroicos. Após três anos, Neuville retorna ao local sem saber que, na sua ausência, tornou-se um herói entre os seus.





A obra, em tom farsesco, brinca com a ideia de como a imagem sobrepõe-se à real essência dos indivíduos - o Capitão Neuville, na verdade, é covarde, mentiroso e sem qualquer escrúpulo; desleal, deserta do exército, abandona a noiva e mente desavergonhadamente. No entanto, graças às cartas forjadas por Elisabeth, ele ganha fama de herói, trazendo, a reboque, todas as virtudes esperadas para o posto. Ao retornar para o lar, aproveita a notoriedade repentina para tirar vantagem da situação, levando Elisabeth - única a saber da verdade - a confrontá-lo, dando início a um cabo de guerra entre ambos. Eu diria que a obra é bastante atual, pois, em tempo de "fake news", temos um exemplo de como uma mentira repetida à exaustão torna-se, rapidamente, verdade absoluta (mesmo que tudo indique o contrário). Ainda que o filme não arranque gargalhadas, o tom cômico prevalece, fazendo o espectador manter um sorriso no rosto a maior parte do tempo. A narrativa é linear, com um roteiro amarradinho, enxuto, mas sem grandes criatividades. O ritmo é prazeroso, nem lento demais, nem alucinante. A atmosfera é divertida e, gradualmente, ganha tons românticos (o que é óbvio, desde o início). Visualmente é uma obra agradável, com sua direção de arte de época, fotografia clara e cores saturadas, brilhantes, em tons majoritariamente quentes (muito amarelo e dourado). Gostei de como os personagens foram pensados: se o capitão Neuville é um grande picareta, Elisabeth não fica muito atrás, muito embora venha com discursos cheios de moral, afinal, foi ela quem criou o "monstro" e mentiu para a sociedade inteira. Além disso, quando Neuville retorna, ao invés de revelar a farsa, tenta comprar seu silêncio e usa de formas pouco lícitas para tentar desmascará-lo, jamais colocando em risco a sua própria imagem. A dupla central tem uma química boa - eu adoro Jean Dujardin desde que o vi em "O Artista" (2011) e acho o trabalho de Melanie Laurent excelente (para quem não a reconhece, ela é a icônica Shosanna de "Bastardos Inglórios", 2009). Os dois conseguem trazer comicidade aos seus personagens e é difícil não simpatizar com eles, apesar de terem, ambos os personagens, caráter para lá de duvidoso. Também gostei de como a personagem Pauline foi estabelecida - por sob a imagem angelical, existe uma jovem com bem poucos freios... rs. A obra é divertida, leve, ainda que não seja assim tão marcante. Vale a pena assistir de forma descompromissada.

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