Filme do dia (52/2019) - "O Silêncio dos Inocentes", de Jonathan Demme, 1991 - Clarice Starling (Jodie Foster) é uma extraordinária estudante da academia do FBI. Formada em psicologia, Clarice é destacada para auxiliar em um terrível caso de crimes em série, recebendo a missão de convencer Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), um perigosíssimo e brilhante psicopata, psiquiatra de formação, a ajudar na definição psicológica do serial killer.
Raramente filmes se mantêm estáveis ao longo do tempo. Existem aqueles que envelhecem mal, perdem fôlego, tornam-se, de certa forma, obsoletos. No sentido contrário, algumas obras tendem a "crescer" e parecem se tornar ainda mais sólidas com o passar dos anos. "O Silêncio dos Inocentes", sem dúvidas, encontra-se na segunda posição. Após vinte e oito anos, a obra não apenas continua ótima, mas, ainda, mostra-se atual ao dar destaque ao ambiente toxicamente machista vivenciado pela agente Starling. O filme alcançou excelência na criação de tensão e suspense, bem como na construção exemplar de seus personagens principais. Clarice alia força e determinação a uma fragilidade interior que ela oculta de todos, mas não consegue esconder do analítico Hannibal Lecter. O doutor, por sua vez, é incomodamente sedutor - siiiiim, todos os espectadores sabem que ele é um psicopata assassino, frio, perigoso, cruel, mas é impossível não simpatizar com sua sofisticada ironia, sua inteligência incomum e sua gentileza no trato com Starling. Aliás, é impecável o jogo de gato e rato que Hannibal estabelece com Starling, que,por mais capacitada que seja, não consegue evitar cair na rede do psiquiatra. Preciso destacar a forma como é construído o ambiente machista vivenciado pela agente do FBI no seu dia-a-dia. Há vinte e oito anos, isso não me chamou minimamente a atenção - simplesmente passou batido. Nessa revisão tardia (deve ser a terceira vez que vejo a obra), o tratamento machista e opressor que Starling recebe de todos - dos colegas de profissão, de seu orientador, de testemunhas e colaboradores - salta aos olhos, incomoda, oprime, não apenas a personagem, mas, ainda, às espectadoras que se identificam, imediatamente, com a agente, e consiste em olhares abusivos, comentários inconvenientes, cantadas invasivas, toda a gama de comportamentos inadequados que homens cis héteros conseguem expor quando muito à vontade numa situação. Muitas cenas mereceriam destaque, mas vou preferir salientar as cenas de visita de Clarice a Hannibal, sempre um duelo psicológico profundo, e a cena da invasão, com sua dúbia montagem paralela, propositalmente construída para enganar o espectador. Tecnicamente, o filme é todo impecável. Quanto ao trabalho de Jodie Foster e Anthony Hopkins, não poderia ser melhor, rendendo-lhes não apenas os Oscares de suas categorias, mas, ainda, diversos outros prêmios importantes da indústria cinematográfica, dentre os quais, o Globo de Ouro e o Bafta. Aliás, a obra recebeu ainda os Oscares de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado - ou seja, as cinco mais importantes categorias dentro do prêmio, todos merecidíssimos!!!! Okay, acho que 99,99% das pessoas já viram o filme, mas, se você faz parte do 0,1% que ainda não o viu, corre que ainda dá tempo!!!! Fenomenal!!! Obrigatório!!!!
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