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  • hikafigueiredo

"O Túmulo Sinistro", de Roger Corman, 1964

Filme do dia (121/2021) - "O Túmulo Sinistro", de Roger Corman, 1964 - Anos após a morte de sua esposa Ligeia (Elizabeth Sheperd), Verden Fell (Vincent Price) ainda espera o seu retorno. Mas, ao conhecer Rowena (Elizabeth Sheperd), apaixona-se e casa com ela, sem imaginar que isso pode transtornar sua falecida companheira.





Último filme do ciclo de contos de Edgar Allan Poe filmados por Roger Corman, a obra retorna para o ambiente preferido do autor - o sobrenatural. Usando como cenário as ruínas reais de uma abadia e fazendo largo uso de externas - coisa bastante incomum para o diretor que, até ali, só filmara o ciclo de obras em estúdio -, o filme mantém a aura sombria característica de Edgar Allan Poe, muito embora suas muitas cenas diurnas, outra característica incomum da obra. Achei interessante o fato da história estar relacionada com a mitologia egípcia - o personagem Verden é retratado como um arqueólogo especializado em Egito Antigo e Ligeia como de origem daquele país (o que explica o fato de não ser cristã e, por isso, Verden ter sido censurado pela Igreja por tê-la enterrado em solo consagrado, logo no início da história). Gostei da crítica que o filme faz ao sequestro de artefatos arqueológicos e artísticos de seus países originários para a Inglaterra - algo bastante à frente de seu tempo e uma noção muito lúcida acerca de história, pertencimento e propriedade. O filme inova na concepção visual - é a obra mais colorida e luminosa do ciclo, com o uso quase constante de um vermelho muito saturado, seja na roupa de cavalgada de Rowena, seja nas flores do túmulo de Ligeia, ou, ainda, no sangue que surgirá em certo momento (sem spoilers). Também percebi uma mudança na interpretação de Vincent Price - normalmente dado ao overacting, nesta obra Price está muito mais contido e discreto; Elizabeth Sheperd está muito bem como Rowena/Ligeia - a caracterização muito diferente das duas personagens faz parecerem quase duas pessoas. Esse filme me fez tomar consciência de que, na obra de Edgar Allan Poe, com frequência, os vetores de mudança e ação - aquilo que põe as engrenagens da história para rodar - estão nas personagens femininas - quase sempre, elas que têm o protagonismo nas histórias, restando aos personagens masculinos reagirem às suas ações, ainda que estas ações estejam ocultas, como no caso em questão. Gostei bastante do filme, um dos melhores do ciclo, muito embora não seja dos contos mais célebres do autor. Recomendo.

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