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"Os Últimos Cinco", de Arch Oboler, 1951

hikafigueiredo

Filme do dia (152/2022) - "Os Últimos Cinco", de Arch Oboler, 1951 - Após o mundo ser totalmente destruído em uma guerra nuclear, cinco sobreviventes se encontram e precisam se adaptar uns aos outros para tentar reconstruir suas vidas, a despeito de suas profundas diferenças.





Considerado o primeiro filme a tratar das consequências de uma guerra nuclear de proporções mundiais, a obra é mais uma que lida com a paranoia atômica amplamente disseminada dos idos anos da Guerra Fria e que praticamente dominou a temática do gênero sci-fi nos anos 50 (e que retornou, em parte, nos anos 80). Na história, depois da vida ser praticamente varrida da face da Terra em decorrência da detonação de milhares de bombas atômicas, um grupo exíguo de sobreviventes precisa se adaptar à nova realidade, ao mesmo tempo em que tem de lidar com as diferenças de cunho filosófico e ideológico trazidas da existência pré-holocausto nuclear. A atmosfera da obra é extremamente melancólica, chegando ao ponto de ser pessimista ao acenar com uma incrível incapacidade do ser humano em ser compreensivo, empático e proativo: os sobreviventes entram em atrito, desrespeitam-se, ameaçam-se, agridem-se, transformando o que já era difícil em uma epopeia pela sobrevivência. A narrativa é linear, em ritmo lento, o que ressalta a tensão existente entre os personagens. A fotografia P&B extremamente contrastada, com uma constante luz "dura", nos remete aos filmes do expressionismo alemão. Há uma predominância dos planos fechados, em especial nos rostos dos sobreviventes, extraindo uma mistura de dor e tensão daqueles personagens expostos àquela situação. Tais planos próximos são, por vezes, quebrados por planos bem abertos que retratam o vazio e a solidão das paisagens, sejam estas naturais ou urbanas - os sobreviventes não têm, sequer, a companhia de outros animais, que, como os humanos, também foram quase integralmente eliminados do planeta. A edição de som privilegia o silêncio e os poucos sons existentes tornam-se ainda mais evidentes pelo contraste com o vazio sonoro (mas é claro que, como bom filme norte-americano, temos uma trilha musical que acompanha todas as cenas de tensão ou clímax, o que tira um pouco da crueza da obra). O elenco, formado por atores desconhecidos, traz William Phipps como Michael, personagem que poderia ser identificado como o "mocinho" da trama. Phipps dá uma personalidade forte para o personagem, ainda que ele se mostre empático com os demais personagens. No papel de Roseanne, uma expressiva Susan Douglas Rubes - as cenas mais tensas e angustiantes são da atriz, que me agradou bastante. Como o personagem Eric, o ator James Anderson, identificado como o grande "vilão" da narrativa - achei o personagem um pouco caricato, exagerado, aquela coisa meio Nazaré Tedesco, sabe? Como Charles, o ator Charles Lampkin, responsável por um recorte racial na trama, bastante interessante. E, por fim, o ator Earl Lee como Sr. Oliver. Algumas cenas merecem destaque - a cena inicial de Roseanne vagando pelos lugares vazios, em alguns momentos em choque, outros em desespero, a qual achei bastante impactante, muito por conta do trabalho de Susan Douglas Rubes; o primeiro encontro de Charles e Roseanne, um exercício de machismo e violência contra a mulher que hoje seriam impensáveis, em especial em se tratando do "mocinho" da história; e as cenas de disputa física entre os personagens, responsáveis por um grande "cansaço" do espectador em relação ao ser humano em geral. O filme, uma produção independente, foi adquirida assim que chegou ao término das filmagens pela Columbia Pictures, o que o alçou a um filme com maior alcance do que originalmente se acreditava. De qualquer forma, não foi uma obra muito bem recebida pela crítica especializada, justamente pela sua atmosfera melancólica e pelas críticas que faz à natureza humana. Pois, para mim, a atmosfera angustiada é o melhor do filme e foi a causa de eu ter gostado bastante da experiência de assisti-lo. Para quem gosta do gênero sci-fi distópico, é uma grande pedida. Recomendo.

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