- hikafigueiredo
“Os Companheiros”, de Mario Monicelli, 1963
Filme do dia (54/2023) – “Os Companheiros”, de Mario Monicelli, 1963 – Turim, final do século XIX. Em uma fábrica têxtil, os trabalhadores são submetidos a jornadas de trabalhos de extenuantes 14 horas e sem possuir qualquer direito trabalhista. Face aos inúmeros casos de acidente de trabalho por exaustão, os operários decidem fazer uma hora de paralisação. A chegada do Professor Sinigaglia (Marcello Mastroianni), um ativo sindicalista, fará com que os trabalhadores mudem de ideia e entrem em greve geral.

Numa das raras obras do diretor sem qualquer apelo cômico, o filme constitui-se em um drama sobre as injustiças e desigualdades sociais provocadas pela Revolução Industrial e pelo capitalismo. A história acompanha um grupo de trabalhadores de uma fábrica têxtil e sua luta para alcançar algum direito trabalhista. Nesse sentido e com o incentivo do Professor Sinigaglia, os operários entram em greve geral e passam a sofrer toda a sorte de necessidades, ao mesmo tempo em que precisam se proteger das ações do patrão, que mobiliza seus contatos para obrigar os trabalhadores a retornarem ao trabalho. É um filme pesado, com ecos tardios do neorrealismo italiano (mais pelo tema e pelo uso de locações reais), que expõe a absoluta desigualdade entre patrões e operários. A narrativa adentra pelas discussões dos trabalhadores, suas reuniões sindicais, os problemas pelos quais passam – fome, frio, etc -, a perseguição de líderes pela polícia e contrapõe toda uma gama de misérias à vida abastada, fútil e despreocupada das elites (a cena da festa é revoltante enquanto comparação à vida sofrida dos operários). A narrativa é linear, em ritmo pausado, ganhando alguma agilidade próximo ao fim. A atmosfera é angustiante e toca fundo qualquer um que tenha alguma empatia e consciência social. A fotografia P&B é bastante contrastada e faz uso de muitos movimentos de câmera. Há uma profusão de personagens retratando diferentes perfis de trabalhadores e não há excessivo destaque de qualquer deles, com alguma exceção ao Professor Sinigaglia, interpretado por Marcello Mastroianni – ainda que o ator seja, como sempre, excepcional, mesmo ele não recebe tempo extraordinário em cena, dando espaço para o restante do elenco, já que o cerne do filme são mesmo os trabalhadores. Destaque para a cena da passeata e para a cena final, está última de raro amargor – o filme termina deixando um gosto bem ruim na boca do espectador. A obra chegou a concorrer ao Oscar (1965) de Melhor Roteiro Original, mas não foi agraciada com o prêmio. O filme é ótimo, um drama social de respeito, mas confesso que senti falta do humor ferino do diretor. Gostei demais e recomendo.